Justiça como memória e direito à verdade frente à política de silêncio e esquecimento em El Salvador: Apontes sobre a percepção da figura de Oscar Arnulfo Romero e a experiência dos diálogos entre gerações nas paróquias da Arquidioceses de San Salvador

Resumo

A política de silêncio e esquecimento, que foi adotada em El Salvador após a Lei
de Amnistia de 1993, tem fomentado o desconhecimento na sociedade salvadorenha
(particularmente nos jovens menores de vinte e cinco anos) sobre as causas
e consequências do conflito armado não internacional que aconteceu entre 1980

e 1992, e sobre as graves violações de direitos humanos que aconteceram nele. As
paróquias da Igreja salvadorenha não são alheias a esta situação porque, como têm
manifestado os diálogos entre gerações promovidos desde o Escritório de Tutela
de Direitos Humanos do Arcebispado de San Salvador em julho de 2018, suas integrantes
mais jovens desconhecem completamente o grau de persecução ao que
seus irmãos de comunidade foram submetidos durante o conflito armado pelas
forças armadas e policiais. A controvérsia que tem existido, pelo menos até 2013,
entre diversos setores da Igreja salvadorenha sobre a figura de Oscar Arnulfo
Romero é resultado desta situação, que afeta às dimensões individual e coletiva do
direito à verdade, impede a satisfação da justiça percebida como memória, evita
que os graves crimes internacionais cometidos em El Salvador sejam tidos em
conta no momento de construir sua memória histórica, oferece um caldo de cultivo
favorável ao revisionismo histórico e impede que se podam adotar as medidas necessárias
para evitar sua repetição. Frente a esta situação, os diálogos entre gerações
celebrados em 2018 em algumas paróquias da Arquidiocese de San Salvador têm
mostrado sua capacidade para expor e superar o impacto negativo da política do
silêncio e o esquecimento desde as próprias comunidades paroquiais afetadas.