Mulheres e travestismo no cinema espanhol anterior à Guerra Civil (1927-1935): entre agência e homossexualidade

Nos últimos anos, os estudos queer aplicados à história do cinema espanhol experimentaram um desenvolvimento notável: embora centrados principalmente nas representações criadas na democracia, mais recentemente também exploraram o longo período do franquismo. Este artigo propõe dar um passo adiante na investigação do cinema espanhol anterior à Guerra Civil e à ditadura de Franco. Especificamente, analisa como, entre 1927 e 1935, surgiram imagens de mulheres travestis em alguns filmes pioneiros. Essas imagens relacionaram-se com os novos modelos de feminilidade do primeiro terço do século xx e as ansiedades que geraram. Da mesma forma, com base no quadro discursivo da comédia, constituíram abordagens pioneiras da representação da homossexualidade na história do audiovisual espanhol. Por meio de pesquisa histórica, são recuperadas narrativas, imagens e discursos de três filmes perdidos, Uma história de táxi (1927), Susana tem um segredo (1933) e Amor em manobras (1935), para analisar como neles funcionou o potencial transgressor do travestismo. Isso permite aos seus protagonistas ganhar poder e/ou acesso a ambientes masculinos, bem como promover, no primeiro, o primeiro beijo homossexual documentado no cinema espanhol ou, no terceiro, a exploração do tabu da homossexualidade em contextos militares.