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Em um contexto sociotécnico marcado por uma intensa disputa pela atenção, plataformas digitais investem em estratégias de formação de hábitos, uma vez que isso garantiria o retorno automático dos usuários. Neste artigo, discutiremos as relações entre as engrenagens do capitalismo de vigilância e da economia da atenção a partir de uma análise metodologica do modelo do gancho, guia prático de design comportamental que combina mecanismos psicológicos e tecnológicos voltados para formar hábitos. O gancho é entendido como exemplo emblemático do que chamamos de tecnobehaviorismo para designar a tecnociência que atualiza referências ao pensamento behaviorista, visando a construção de interações humano-computador através de princípios de condicionamento. Argumentaremos que, no elo indissociável entre capitalismo de vigilância e economia da atenção, o tecnobehaviorismo oferece modelos teóricos e práticos ideais para atingir os objetivos econômicos das plataformas digitais, visando o engajamento. Com um olhar crítico, concluímos que a formação tecnobehaviorista de hábito articula modos de automatizar a captura da atenção e o controle do comportamento, explorando vulnerabilidades humanas por mecanismos sutis de influência psicológica e um controle fino dos estímulos nas arquiteturas de escolha dos ambientes digitais.

Anna Carolina Franco Bentes, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Anna Bentes é pesquisadora, doutoranda e mestre em Comunicação e Cultura da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). É membro da Rede Latino-americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (Lavits)

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