Em um contexto de emergência climática, profundas desigualdades sociais e constante transformação digital, o número monográfico "Vozes e Democracia. Comunicação para a Justiça Ecossocial em face da involução democrática" propõe uma reflexão sobre o papel da comunicação grupal, comunitária e mediada na construção de uma cidadania crítica, ativa e vigilante. Busca-se analisar o potencial dos meios de comunicação, redes e plataformas digitais para combater a atomização social, o autoritarismo e as lideranças antidemocráticas. Como espaço contra-hegemônico, a comunicação pode desempenhar um papel fundamental na convivência democrática, promovendo o encontro de saberes diversos, apoiando movimentos sociais e fomentando uma visão maximalista de democracia que vá além dos momentos eleitorais.

Nesse sentido, conceitos como o de 'voz' propõem que a comunicação deve ser considerada um direito fundamental nas sociedades democráticas — não apenas como a capacidade de falar, mas também de ser ouvido/a e de influenciar o espaço público (Couldry, 2021). Esta proposta dialoga com a longa tradição da comunicação participativa latino-americana (Freire, 1998; Alfaro, 1990; Kaplún, 1985; Rodríguez, 2001; Mata, 2023; Magallanes & Ramos, 2017), que dá destaque às vozes historicamente marginalizadas — mulheres, setores populares, povos indígenas — que hoje reivindicam o direito de disputar os sentidos hegemônicos em um cenário de concentração midiática. Em um contexto de crise ecosocial e ameaças democráticas, convidamos o envio de propostas que analisem a comunicação como um espaço político para compartilhar e enfrentar vulnerabilidades humanas (de classe, gênero, identidade cultural, etc.), expressar a criatividade popular e construir cenários mais sustentáveis para o futuro.

Damos especial atenção a trabalhos sobre coletivos cidadãos e organizações midiáticas com finalidades sociais, que contribuam para dar conteúdo ético e coletivo ao ativismo e aos conteúdos veiculados por mídias, redes sociais, plataformas e sistemas de IA. Valorizamos a incorporação de epistemologias não hegemônicas, metodologias não intrusivas às comunidades, e experiências singulares e criativas voltadas à construção de narrativas de justiça, inclusão e responsabilidade socioambiental. Serão aceitos estudos empíricos, revisões de literatura, contribuições teóricas, sistematização de experiências comunicativas ou reconstruções históricas.

Eixos Temáticos:

  1. Ativismos midiáticos e construção de contra-hegemonias. Repertórios midiáticos e tecnológicos que promovam ideais democráticos e de justiça ecosocial a partir de organizações sem fins lucrativos, movimentos sociais e outros espaços comunitários ou associativos.
  2. Audiovisual crítico frente ao autoritarismo discursivo. Estratégias comunicativas e produções audiovisuais que enfrentem desafios democráticos em contextos de conflito, promovendo justiça comunicativa e comunicação para a paz.
  3. Expressões e ações cidadãs frente à antidemocracia, à desinformação e aos discursos de ódio. Intervenções, experiências e reflexões teóricas originadas de iniciativas cidadãs frente às narrativas de ódio e ameaças à democracia.
  4. IA, economias da atenção e influenciadores para a mudança social. Transformações tecnológicas e sociais no contexto das economias da atenção e da chegada de ferramentas como IA, com propostas para a (auto)regulação da atuação de influenciadores, divulgadores e ativistas digitais.
  5. Epistemologias e metodologias contra-hegemônicas. Contribuições teóricas e metodológicas que incorporem abordagens críticas e participativas aos estudos da comunicação.

 

Este número monográfico é coordenado por Alejandro Barranquero (abarranq@hum.uc3m.es), Mª Cruz Tornay Márquez (mctornay@centrosanisidoro.es) e Álex Iván Arévalo Salinas (alexarevalo@unex.es). A publicação do número será realizada em julho de 2026, mas os trabalhos aceitos antes dessa data serão pré-publicados no site da revista.

O prazo limite para recebimento de artigos é 15 de dezembro 2025.

 

Além de artigos para o dossier, a revista aceita, em fluxo contínuo, artigos de temática livre em diferentes áreas da pesquisa em comunicação que serão publicados na seção Avances juntamente com os artigos vinculados ao dossier.

 

Referências:

Alfaro, R. (1990): ¿Participación para qué? Un enfoque político de la participación en la comunicación popular. Diálogos de la Comunicación, 22:59-78. 

Couldry, N. (2021). Why Voice Matters. Culture and Politics After Neoliberalism. Sage.

Freire, P. (1998). Extensión y Comunicación: la concientización en el medio rural. Siglo XXI. 

Kaplun, M. (1985). El comunicador popular. CIESPAL. 

Magallanes, C. & Ramos, J. (coords.) (2017). Miradas propias. Pueblos indígenas, comunicación y medios en la sociedad global. Ciespal.

Mata, M.C. (2023). In-disciplinada. Marita Mata. Textos reunidos (1980-2022). FES. 

Rodríguez, C. (2001). Fissures in mediascape. An international study of citizens´ media. Cresskill.  Hampton Press.