Investigação sobre desinformação. Consolidação do campo na academia iberoamericana

Nos últimos anos, com a popularidade das redes sociais digitais e o aumento de forças políticas alternativas e/ou radicais, a desinformação – sob a forma de notícias falsas, teorias da conspiração, rumores, propaganda, etc  – tornou-se uma das linhas de maior peso e relevância dentro dos estudos de comunicação, nomeadamente a partir de 2016.

À consolidação das redes sociais juntaram-se os feitos políticos imprevistos que colocaram em discussão o papel da comunicação: a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos e a vitória do Brexit no referendo realizado no Reino Unido. Ambos os acontecimentos foram influenciados por campanhas muito polarizadas e agressivas, nas quais a desinformação desempenhou um papel fundamental.

Desde então, assistiu-se a avanços importantes no conhecimento sobre a matéria. Sem sermos exaustivos, algumas discussões de nível internacional estão centradas na delimitação e definição do fenómeno (Tandoc et al., 2017), na medição do seu alcance e difusão (Vosoughi et al., 2018), na compreensão dos fatores que afetam a credibilidade e a propensão em disseminar informações falsas (Baptista et al., 2021), ou na avaliação do impacto da verificação de factos (Hameleers & van der Meer, 2020) e de outras medidas para contrariar seus efeitos, como a alfabetização mediática (Sábada & Salaverría, 2023).

Como em outros âmbitos, a investigação foi conquistada pelo contexto anglo-saxónico. Ainda assim, deve ser reconhecida pelos avanços alcançados na academia dos países ibero-americanos. De facto, nestes países, a investigação também se focou em iniciativas de verificação e fact-checking. Os avanços interessantes e importantes gozam de riqueza temática –  encontramos política e processos eleitorais (Canavilhas & Colussi, 2022), a pandemia de Covid-19 (Salaverría et al., 2020), ou a conexão com discursos de ódio (Cantón Correa & Galindo Calvo, 2019) e metodologicamente podemos citar projetos experimentais (Bachman & Valenzuela, 2023), os inquéritos a cidadãos (Baptista et al., 2023) ou os jornalistas (Blanco-Herrero & Arcila-Calderón, 2019: Galarza Molina, 2022), ou a análise de conteúdo (Almansa-Martínez et al., 2022).

No entanto, grandes esforços são sempre necessários, dada a urgência e a complexidade do fenómeno estudado. Na realidade, a investigação em desinformação na academia iberoamericana beneficiaria de uma maior consistência e estrutura, assim como de uma maior conexão e também de um maior diálogo interno e com outros regiões.

O objetivo deste número monográfico na revista Disertaciones prende-se em continuar a consolidar a investigação em desinformação, abordando questões relacionadas como uma perspetiva ampla, focadas tanto no espaço iberoamericano como na sua interconexão com o resto das regiões do mundo. Para isso, convidamos o envio de trabalhos sobre os temas seguintes ou relacionados:

  • Compreensão e caracterização da desinformação: temas, atores e plataformas
  • Causas da sua disseminação e propagação: dos algoritmos aos fatores individuais
  • A psicologia da desinformação: credibilidade, sentimentos, emoções e vulnerabilidades públicas
  • Conexão da desinformação com outros fenómenos sociopolíticos: consequências para a democracia e a convivência
  • Os desafios do jornalismo: crise de legitimidade e falta de confiança
  • Estratégias de luta contra a informação falsa: verificação de factos, iniciativas legislativas e alfabetização mediática
  • Avanços metodológicos: inovações técnicas e ferramentas de deteção
  • A desinformação em diferentes contextos culturais: visões internacionais e análises comparadas
  • Desinformação e Inteligência Artificial: desafios e soluções possíveis

 

Este número monográfico é coordenado por João Pedro Baptista (Instituto Politécnico de Bragança - IPB, e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - UTAD, joaobaptista@utad.pt) e David Blanco-Herrero (Universteit van Amsterdam, d.blancoherrero@uva.nl). A publicação do número será realizada em julho de 2025, mas os trabalhos aceitos antes dessa data serão pré-publicados no site da revista.

O prazo limite para recebimento de artigos é 15 de setembro de 2024.

 

Além de artigos para o dossier, a revista aceita, em fluxo contínuo, artigos de temática livre em diferentes áreas da pesquisa em comunicação que serão publicados na seção Avances juntamente com os artigos vinculados ao dossier.

 

Referências

Almansa-Martínez, A., Fernández-Torres, M. J., & Rodríguez-Fernández, L. (2022). Desinformación en España un año después de la COVID-19. Análisis de las verificaciones de Newtral y Maldita. Revista Latina De Comunicación Social, 80, 183-200. https://doi.org/10.4185/RLCS-2022-1538

Bachmann, I., & Valenzuela, S. (2023). Studying the Downstream Effects of Fact-Checking on Social Media: Experiments on Correction Formats, Belief Accuracy and Media Trust. Social Media + Society [Online First]. https://doi.org/10.1177/20563051231179694

Baptista, J. P., Correia, E., Gradim, A., & Piñeiro‐Naval, V. (2021). The influence of political ideology on fake news belief: The Portuguese case. Publications, 9(2), 23. https://doi.org/10.3390/publications9020023

Baptista, J. P., Gradim, A., Loureiro, M., & Ribeiro, F. (2023). Fact-checking: uma prática recente em Portugal? Análise da perceção da audiência. Anuario Electrónico De Estudios En Comunicación Social "Disertaciones", 16(1). https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/disertaciones/a.12426

Blanco-Herrero, D., & Arcila-Calderón, C. (2019). Deontología y noticias falsas: estudio de las percepciones de periodistas digitales y tradicionales en España. El Profesional de la Información, 28(3), e280308. https://doi.org/10.3145/epi.2019.may.08

Canavilhas, J., & Colussi, J. (2022). Whatsapp como plataforma de desinformación: Estudio de caso de las elecciones presidenciales brasileñas. VISUAL REVIEW. International Visual Culture Review, 9(3). https://doi.org/10.37467/revvisual.v9.3519

Cantón Correa, F. J., & Galindo Calvo, P. (2019). Posverdad, redes sociales e islamofobia en Europa. Un estudio de caso: el incendio de Notre Dame. RAEIC, Revista de la Asociación Española de Investigación de la Comunicación, 6(12), 35-57. https://doi.org/10.24137/raeic.6.12.8

Galarza Molina, R. A. (2022). El periodismo mexicano frente a la desinformación: percepciones sobre los responsables, las estrategias implementadas y las potenciales soluciones ante el problema. Estudios sobre el Mensaje Periodístico, 28(4), 765-776. https://doi.org/10.5209/esmp.77636

Hameleers, M., & van der Meer, T. G. L. A. (2020). Misinformation and polarization in a high-choice media environment: How effective are political fact-checkers? Communication Research, 47(2), 227-250. https://doi.org/10.1177/0093650218819671

Sábada, C., & Salaverría, R. (2023). Combatir la desinformación con alfabetización mediática: análisis de las tendencias en la Unión Europea. Revista Latina de Comunicación Social, 81, 17-33. https://www.doi.org/10.4185/RLCS-2023-1552

Salaverría, R., Buslón, N., López-Pan, F., León, B., López-Goñi, I., & Erviti, M.-C. (2020). Desinformación en tiempos de pandemia: tipología de los bulos sobre la Covid-19. Profesional de la Información, 29(3). https://doi.org/10.3145/epi.2020.may.15

Tandoc Jr., E. C., Lim, Z. W., & Ling, R. (2017). Defining “Fake News” A typology of scholarly definitions. Digital Journalism, 6(2), 137-153. https://doi.org/10.1080/21670811.2017.1360143

Vosoughi, S., Roy, D., & Aral, S. (2018). The spread of true and false news online. Science, 359, 1146-1151. https://doi.org/10.1126/science.aap9559