Abuso digital nos relacionamentos amorosos: uma revisão sobre prevalência, instrumentos de avaliação e fatores de risco

Abuso digital en las relaciones amorosas: una revisión sobre prevalencia, instrumentos de evaluación y factores de riesgo

Cyber Dating Abuse: A Review of Prevalence, Evaluation Instruments and Risk Factors

Jaqueline Gomes Cavalcanti
Instituto de Educação Superior da Paraíba, Brasil
Maria da Penha de Lima Coutinho
Instituto de Educação Superior da Paraíba, Brasil

Abuso digital nos relacionamentos amorosos: uma revisão sobre prevalência, instrumentos de avaliação e fatores de risco

Avances en Psicología Latinoamericana, vol. 37, núm. 2, 2019

Universidad del Rosario

Recepção: 01 Agosto 2018

Aprovação: 21 Março 2019

Informação adicional

Para citar este artigo: Cavalcanti, J. G., & Coutinho, M. P. L. (2019). Abuso digital nos relacionamentos amorosos: uma revisão sobre prevalência, instrumentos de avaliação e fatores de risco. Avances en Psicología Latinoamericana, 37(2), 235-254. Doi: https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.6888

Resumo: Com o avanço da tecnologia, uma nova forma de agressão entre casais tem emergido, o abuso digital nos relacionamentos amorosos. Embora seja um fenômeno recente, tem despertado interesse de estudos devido as suas implicações negativas. Nesse sentido, o objetivo dessa revisão foi fazer um levantamento de pesquisas empíricas relacionadas ao abuso digital nos relacionamentos amorosos, conhecendo suas prevalências, instrumentos de avaliação e fatores de risco associados. Foram encontrados e analisados 39 artigos referentes aos últimos 10 anos (2008-2018). Os resultados apontaram para uma ampla variação na prevalência desse fenômeno; além de distintas formas de operacionalizá-lo. Em termos de medidas de avaliação, verifica-se um maior uso de instrumentos de autorrelato, não obstante, a maioria desses não relataram parâmetros psicométricos. Também verificou-se que esse fenômeno emerge como um fenômeno psicossocial, podendo ser ocasionado por fatores de risco de diversas ordens, tais como: sociodemográficos; relativos ao relacionamento; familiares, psicológicos, relacionados às percepções, normas e crenças. Ademais, ao longo deste artigo foram feitas diversas sugestões de pesquisas futuras.

Palavras-chave violência por parceiro íntimo, abuso digital nos relacionamentos amorosos, agressão virtual, tecnologia.

Resumen: Con el avance de la tecnología, una nueva forma de agresión entre parejas ha emergido: el abuso digital en las relaciones amorosas. A pesar de ser un fenómeno reciente, ha despertado el interés de estudios debido a sus implicaciones negativas. En este sentido, el objetivo de esta revisión fue hacer un levantamiento de investigaciones empíricas relacionadas con el abuso digital en las relaciones amorosas para conocer sus prevalencias, instrumentos de evaluación y factores de riesgo asociados. Fueron encontrados y analizados 39 artículos referentes a los últimos 10 años (2008-2018). Los resultados apuntaron a una amplia variación en la prevalencia de este fenómeno, además de distintas formas de operacionalizarlo. En términos de medidas de evaluación, se verifica un mayor uso de instrumentos de autorrelato; no obstante, la mayoría de estos no relataron parámetros psicométricos. También se verificó que este fenómeno emerge como uno psicosocial, que puede ser ocasionado por factores de riesgo de diversos órdenes como sociodemográficos, relativos con la relación, familiares, psicológicos, relacionados a las percepciones, normas y creencias. Además, a lo largo de este artículo se hicieron diversas sugerencias para investigaciones futuras.

Palabras clave: violencia por compañero íntimo, abuso digital en las relaciones amorosas, agresión virtual, tecnología.

Abstract: With the advancement of technology, a new form of aggression between couples has emerged: digital abuse in loving relationships. Although it is a recent phenomenon, it has attracted the interest from studies because of its negative implications. In this sense, the purpose of this review was to make a survey of empirical research related to digital abuse in love relationships, knowing their prevalence, evaluation instruments, and associated risk factors. We found and analyzed 39 articles referring to the last ten years (2008-2018). The results pointed to a wide variation in the prevalence of this phenomenon beside different ways of operating it. In terms of evaluation measures, there is greater use of self-report instruments; nevertheless, most of them did not report psychometric parameters. Studies have observed that this phenomenon emerges as a psychosocial situation, which may be a result of risk factors of several orders, such as socio-demographic, relationship related, familiar, psychological, and related to perceptions, norms, and beliefs. In addition, several suggestions for future research were made throughout this article.

Keywords: Intimate partner violence, cyber dating abuse, virtual aggression, technology.

Introdução

A tecnologia tornou-se essencial na vida cotidiana, permitindo a transformação da conexão entre as pessoas com a criação de novos espaços de socialização. Por outro lado, o ambiente virtual passou a ser ferramenta de práticas de discriminação e violência, fornecendo oportunidades para perpetradores humilharem, deflagrarem e agredirem (Deans & Bhogal, 2017; Flach & Deslanches, 2017; Peskin et al., 2017). Neste sentido, um grande número de investigações tem concentrado seu interesse no mau uso da tecnologia, através de fenômenos como cyberbullying (bullying virtual), cyberstaliking (perseguição virtual), porn revenge (exposição de imagens íntimas sem consentimento), linchamento virtual e abuso digital nos relacionamentos amorosos.

No que tange ao abuso digital nos relacionamentos amorosos, além de surgir no contexto da violência entre casais, está intimamente relacionado ao uso crescente da tecnologia entre parceiros íntimos. Uma pesquisa realizada em 2013 pelo Pew Research Center, nos Estados Unidos, apontou que 41% dos casais jovens entre 18 e 29 anos de idade, sentem-se mais próximos dos parceiros por causa de recursos tecnológicos. Dos casais entrevistados, 67% admitiram compartilhar suas senhas, 27% disseram utilizar a mesma conta de e-mail e 11% relataram dividir o perfil em redes sociais. Finalmente, a pesquisa apontou que 10% dos adultos (casados ou solteiros) já enviaram vídeos ou fotos com conteúdo de nudez para seus parceiros.

O abuso digital nos relacionamentos amorosos (ADRA), cuja terminologia internacional mais utilizada é Cyber Dating Abuse (Flach & Deslanches, 2017), diz respeito a ameaças, insultos, humilhações ou comportamentos de ciúme destinados a provocar angústia no parceiro e isolamento. Além disso, inclui comportamentos como controle do parceiro (exigir conhecer as senhas do celular ou contas de e-mail), propagação de rumores, compartilhamento de fotos ou vídeos do parceiro sem sua permissão, pressão para que o parceiro envie fotos ou vídeos sexualmente explícitos ou pratique atos sexuais contra a sua vontade através da internet ou celular (Borrajo, Gámez-Guadix, Pereda & Calvete, 2015c; Flach & Deslanches, 2017; van Ouytsel et al., 2016).

Embora compartilhe semelhanças com a violência tradicional entre casais, o ADRA possui algumas distinções que garantem sua investigação como um comportamento distinto. A primeira diz respeito ao fato de que o abuso virtual pode acontecer de forma rápida, fácil e continuamente, podendo ocorrer em qualquer lugar ou a qualquer momento (mesmo após o término do relacionamento), não sendo necessária a presença do agressor (Bennett et al., 2011; Melander, 2010; Stonard, Bowen, Lawrence & Price, 2014). Além disso, muitas mensagens baseadas em tecnologia são relativamente permanentes (Runions, Shapka, Dooley, & Modecki, 2013; Slonje & Smith, 2008).

Convém destacar que, assim como na violência presencial entre casais, o ADRA implica em várias consequências negativas, podendo ocasionar aos envolvidos baixo rendimento escolar, distúrbios do sono, sintomas depressivos e ansiosos, comportamentos delinquentes e ideação suicida (Flach & Deslanches, 2017).

Com base no exposto, verifica-se que, ao passo que houve um aumento do uso tecnológico por parceiros íntimos e, por sua vez, a criação de novas táticas de violência dentro do relacionamento, novas demandas científicas relacionadas à temática do abuso digital entre casais se apresentaram. Não obstante, verifica-se que ela tem sido pouco investigada, uma vez que a maior parte dos estudos que trata da “violência entre parceiros íntimos” não considera as formas de abuso online.

Dessa forma, tendo em vista a fase inicial em que se encontram as pesquisas referentes ao ADRA, torna-se imprescindível conhecer de que forma esse fenômeno vem sendo estudado a fim de melhor compreendê-lo. Por essa razão, a presente revisão objetivou fazer um levantamento de pesquisas empíricas relacionadas ao abuso digital nos relacionamentos amorosos, conhecendo suas prevalências, instrumentos de avaliação e fatores de risco associados.

Método

A presente revisão de literatura foi realizada mediante busca de artigos indexados em base eletrônica de dados, buscando identificar publicações que avaliassem o abuso digital nos relacionamentos amorosos em um período de dez anos. Para a realização da pesquisa, procedeu-se com uma investigação nas seguintes bases de dados: Medline/ PubMed, Scopus, Psynfo, Scielo.

Foram utilizados os descritores: Cyber Dating Abuse (CDA), Cyber Dating Aggression (CDAGG) e Cyber Aggression AND Intimate partner violence (CAIPV). Optou-se pela utilização dos termos em inglês, tendo em vista não serem encontrados estudos empíricos nessa temática no Brasil. Como critérios de refinamento, considerou-se a inclusão dos estudos desenvolvidos entre os anos de 2008 e 2018 que apresentassem conteúdo completo para acesso. Foram excluídos estudos teóricos e de revisões, textos coincidentes, sem acesso completo, indisponíveis em meio digital e pesquisas empíricas que não fizessem referência direta ao tema proposto no presente estudo.

De acordo com a busca realizada no banco de dados, foram localizados inicialmente 1.290 resultados (SciELO = 0; Medline/PubMed = 349; Scopus = 913; PsycINFO = 28). Destes, foram excluídos 113 por estarem repetidos, restando 1177 artigos para leitura de resumo. Após esse procedimento, foram excluídos 1129 por não se relacionarem à temática, restando 48 publicações para leitura na íntegra. Destes, por sua vez, foram excluídos 9 manuscritos, por se tratarem de revisões, sendo selecionados, ao final, 39 artigos, os quais foram submetidos a uma análise minuciosa. A figura 1 sintetiza os passos do processo de triagem.

Fluxograma demonstrativo da seleção de artigos
Figura 1
Fluxograma demonstrativo da seleção de artigos


Resultados e discussão

Os estudos selecionados são apresentados na tabela 1, em que são descritos a autoria e o ano de publicação; o país onde foi realizada a pesquisa; as estratégias/ou os instrumentos utilizados para a avaliação do ADRA, incluindo quantidade de itens, subescalas e dimensões avaliadas, bem como o período de ocorrência considerado e; finalmente, a prevalência de vitimização e a perpetração apontada nos estudos.

Conforme observado, o ano com maior número de publicações foi o de 2015 (11), seguido de 2017 (10) e 2018 (6), 2014 (4) e 2016 (4), 2013 (3) e 2010 (1). Acerca disso, verifica-se que as investigações encontradas são relativamente recentes, uma vez que o manuscrito mais antigo é correspondente ao ano de 2010, havendo um crescimento vertiginoso no ano de 2015, seguido por uma queda em 2016 e voltando a crescer em 2017 e 2018.

Percebe-se ainda que a maioria dos estudos está concentrada nos EUA (24), seguido pela Espanha (6), Bélgica (4), Canadá (2), México (1), Itália (1) e Reino Unido (1). Ou seja, pesquisas oriundas proeminentemente da América do Norte e da Europa, apresentando uma lacuna de pesquisas em países nos demais continentes, inclusive no Brasil.

Tabela 1
Prevalência, medição dos estudos empíricos acerca do abuso digital nos relacionamentos amorosos íntimos
Prevalência, medição dos estudos empíricos
acerca do abuso digital nos relacionamentos amorosos íntimos

Nota: n/i = não informa; n/a= não se aplica; P.O.=Período de ocorrência; V=Vitimização; P=Perpetração.

Tabela 1 (Cont.)
Prevalência, medição dos estudos empíricos acerca do abuso digital nos relacionamentos amorosos íntimos
Prevalência, medição dos estudos empíricos
acerca do abuso digital nos relacionamentos amorosos íntimos

Nota: n/i = não informa; n/a= não se aplica; P.O.=Período de ocorrência; V=Vitimização; P=Perpetração.

Tabela 1 (Cont.)
Prevalência, medição dos estudos empíricos acerca do abuso digital nos relacionamentos amorosos íntimos
Prevalência, medição dos estudos empíricos
acerca do abuso digital nos relacionamentos amorosos íntimos

Nota: n/i = não informa; n/a= não se aplica; P.O.=Período de ocorrência; V=Vitimização; P=Perpetração.

Tabela 1 (Cont.)
Prevalência, medição dos estudos empíricos acerca do abuso digital nos relacionamentos amorosos íntimos
Prevalência, medição dos estudos empíricos
acerca do abuso digital nos relacionamentos amorosos íntimos

Nota: n/i = não informa; n/a= não se aplica; P.O.=Período de ocorrência; V=Vitimização; P=Perpetração.

Tabela 1 (Cont.)
Prevalência, medição dos estudos empíricos acerca do abuso digital nos relacionamentos amorosos íntimos
Prevalência, medição dos estudos empíricos
acerca do abuso digital nos relacionamentos amorosos íntimos

Nota: n/i = não informa; n/a= não se aplica; P.O.=Período de ocorrência; V=Vitimização; P=Perpetração.

Em relação aos instrumentos ou estratégias de avaliação empregados, 35 utilizaram metodologia quantitativa (instrumentos de autorrelato), enquanto 3 serviram-se de instrumento qualitativo (entrevista e grupo focal) e 1 de instrumentos quantitativos e qualitativos. Acerca desses achados, chama atenção para o desequilíbrio entre ambas as metodologias (quantitativa e qualitativa), havendo uma maior predominância de estudos empíricos quantitativos. Se essa constatação se configurar uma tendência na pesquisa no tocante ao ADRA, entende-se que novas interpretações acerca do fenômeno poderão sofrer prejuízos, uma vez que a metodologia qualitativa possibilita compreender um maior espectro de opiniões, percepções acerca de um fenômeno, favorecendo uma compreensão mais detalhada das crenças, das atitudes, dos valores e das motivações em relação ao comportamento das pessoas (Bauer & Gaskell, 2017).

No que diz respeito aos estudos de metodologia quantitativa, predominou a utilização de medidas de autorrelato (medidas nas quais o participante avalia seu próprio desempenho). Embora tal estratégia possa sofrer interferência da desejabilidade social (Crowne & Marlowe, 1960), apresenta a vantagem de possibilitar a coleta de grande quantidade de dados em um menor período de tempo, bem como possui uma maior simplicidade em sua aplicação.

Nos artigos empíricos analisados, que utilizaram medidas de autorrelato (36), foram encontrados 28 instrumentos distintos, os quais podem ser divididos em dois grupos. O primeiro, formado por 23 instrumentos, refere-se a medidas elaboradas pelos próprios pesquisadores, com base em estudos prévios sobre cyberbullying ou violência tradicional no namoro, não sendo empregadas em pesquisas posteriores. O segundo grupo, constituído por 5 medidas, corresponde aos instrumentos padronizados em que são mencionados evidências de validade e precisão: Cyber dating abuse questionnaire – CDAQ (Borrajo et al., 2015c), Cyberdating Q_ A (Sánchez et al., 2015), Cyber Aggression in Relationships Scale —CARS— (Watkins, Rosalita, Maldonado & DiLillo, 2016), Partner Cyber Abuse Questionnaire (Hamby, 2013; Wolford-Clevenger et al., 2016) e a Escala de Ciber-Violencia en Parejas Adolescentes (Cava & Buelga, 2018), havendo uma maior predominância do CDAQ (Borrajo et al., 2015c).

Diante disso, verifica-se que, apesar da variedade de instrumentos de autorrelato encontrados, ainda existe uma carência na literatura de medidas que avaliem o ADRA, com indicações de parâmetros psicométricos. As qualidades psicométricas de um estudo (validade e precisão) são exigências essenciais para um bom instrumento, de modo que o mesmo deve ter a capacidade de mensurar aquilo que se propõe sem erros (Pasquali, 2009).

Quanto às dimensões abarcadas pelos instrumentos de autorrelato, 11 avaliaram essa agressão como um fenômeno composto de mais de um componente, enquanto as demais não assumiram uma multidimensionalidade ou não a mencionaram. As dimensões apontadas são diversas, a saber: controle online (Borrajo et al., 2015b; 2015c; Reed et al., 2017; Sanchez et al., 2015); agressão direta (Borrajo et al., 2015b; 2015c; Reed et al., 2017); abuso de namoro cibernético sexual e não sexual (Dick et al., 2014; Zweig et al., 2013a); coerção sexual digital (Reed et al., 2017); intimidade online, estratégias de comunicação emocional, práticas de cyber relação, ciúme online e comportamento intrusivo em linha (Sanchez et al., 2015); cyberstalking, assédio, sexting coercitivo (Smith-Darden, Kernsmith, Victor & Lathrop, 2017); agressão cibernética psicológica, agressão cibernética sexual, agressão cibernética stalking (Watkins et al., 2016); agressão cibernética relacional e invasão de privacidade (Wright, 2015; Crane, Umehira, Berbary & Easton, 2018).

Além dos distintos fatores mencionados pelas medidas, verificou-se uma ampla gama de comportamentos abordados como indicadores de abuso digital nos relacionamentos, tais como monitorar um parceiro ou ex-parceiro (Borrajo et al., 2015c; Watkins et al., 2016), pressionar o parceiro para que envie fotos sexuais ou nuas de si mesmo (Zweig et al., 2013a), enviar e-mails ou mensagens ameaçadoras (Borrajo et al., 2015c; Watkins et al., 2016; Wolford-Clevenger et al., 2016; Zweig et al., 2013a), enviar fotos ou mensagens humilhantes (Borrajo et al., 2015c; Watkins et al., 2016).

Esses achados ilustram que os desenvolvedores dos instrumentos operacionalizam o conceito de diferentes maneiras, não sendo verificada uma definição consensual, o que pode ser explicado pelo fato de o tema ser recente ou ainda pela escassez de estudos empíricos acerca deste fenômeno. Nesse sentido, é adequado considerar previamente, antes de decidir qual medida utilizar, a definição que mais se enquadre aos objetivos da pesquisa em vista.

Em relação ao questionamento do período de ocorrência do abuso, 20 instrumentos delimitam o último ano, enquanto 3 demarcam os últimos 3 meses, 4 delimitam os últimos 6 meses, 1 considera alguma vez, 1 determina a última hora e 7 não informam. Conforme observado, a consideração quanto ao período em que os participantes relatam ter vivenciado situações de abuso online variou de “última hora” a “alguma vez” (ou ao longo da vida), sendo o intervalo de “último ano” o mais utilizado.

Finalmente, quanto à prevalência de vitimização, 20 estudos relataram taxas que variaram de 1.1% a 91.9%. Destes, a maioria foi conduzida nos EUA (13 estudos), seguido pela Espanha (5 estudos), Canadá (1) e Itália (1). No que tange aos índices de perpetração, são encontrados 20 estudos que informam tais taxas, dos quais 14 foram realizados nos EUA, 4 na Espanha, 1 no Canadá e 1 na Itália, indicando percentuais que variaram de 2.7 % a 97.7%.

Esses dados refletem que, apesar dessa variação, claramente o ADRA é um comportamento comum entre casais. Essa variação pode ser explicada pelo fato dessas prevalências fazerem referência tanto a comportamentos mais gerais de abuso —exemplo: sofrer qualquer tipo de controle online— (Borrajo et al., 2015c), quanto a comportamentos mais específicos (exemplo: ter a senha roubada pelo parceiro (Wolford-Clevenger et al., 2016). Como também, reportar ações menos graves (exemplo: inspecionar as redes sociais do parceiro sem a permissão dele, (Borrajo et al., 2015c) quanto mais severas (exemplo: enviar mensagens ameaçadoras para o parceiro (Watkins et al., 2016). Ademais, pode-se citar, como influenciadores, a utilização de diferentes definições do fenômeno, os tipos diferentes de instrumentos e amostras, bem como o período de ocorrência considerado pelos autores, o que torna as comparações e generalizações entre estudos algo desafiador.

Também foram analisados os fatores de risco associados à vitimização e à perpetração do abuso virtual nos relacionamentos amorosos, os quais foram subdivididos da seguinte forma: (1) fatores ligados às características sociodemográficas, (2) ao relacionamento, (3) ao comportamento sexual de risco, (4) ao comportamento antissocial e agressivo; (5) a fatores psicológicos, (6) a fatores familiares e (7) a fatores relacionados às percepções, normas e crenças.

Fatores ligados às características sociodemográficas

Uma primeira variável apontada é o gênero, em que não se observa um consenso. Por um lado, alguns autores indicam uma frequência semelhante entre homens e mulheres (Borrajo et al., 2015a; Peskin et al., 2017; Sanchez et al., 2015; van Ouytsel et al., 2017b; van Ouytsel et al., 2016). Por outro, estudos reportam as mulheres como aquelas que sofrem mais abuso cibernético do que os homens (Dick et al., 2014; Reed et al., 2017; Zweig et al., 2013b) e sendo as menos propensas a cometerem tal agressão (Deans & Bhogal, 2017).

Esse dado necessita de maior investigação, sobretudo quanto à influência dos papéis socializados de gênero, em que se espera que as mulheres tendam a apresentar menos comportamentos abusivos que os homens. Além disso, é importante conhecer de que forma essa violência é manifestada em relação ao gênero, uma vez que estudos verificaram que as mulheres tendem a praticar o abuso online na categoria de monitoramento e controle, enquanto os homens na agressão direta (Borrajo et al., 2015a; Durán & Martínez-Pecino, 2015; Lucero, Weisz, Smith-Darden & Lucero, 2014; Wolford-Clevenger et al., 2016).

Outro fator de risco elencado foi a idade, indicando que indivíduos mais jovens apresentam uma maior frequência de envolvimento no ADRA (Borrajo et al., 2015a; Crane et al., 2018; Smith et al., 2018; Watkins et al., 2016), podendo ter como explicação o fato de ser verificado menor habilidade ou conhecimento para lidar com relacionamentos amorosos em pessoas de menos idade. Além disso, esses podem apresentar uma visão mais irreal do relacionamento amoroso, deduzindo o controle e o monitoramento como uma forma de amor (Borrajo et al., 2015a; Watkins et al., 2016). Não obstante, Zweig et al. (2013b) e van Ouytsel et al. (2016; 2017b) não verificaram relação entre idade e ADRA.

O uso de redes sociais, bem como o uso problemático da internet também foram associados ao ADRA, relatando que quanto maior sua utilização, maior será a probabilidade de ser vítima ou agressor desse fenômeno (Machimbarrena et al., 2018; van Ouytsel et al., 2016; 2017b). Esses resultados não surpreendem, tendo em vista que essa relação também é verificada em pesquisas que consideram outros tipos de agressões virtuais (Didden et al., 2009; Twyman, Saylor, Taylor & Comeaux, 2010). Além disso, no contexto do ADRA, van Ouytsel et al. (2016) destacam que quanto mais os indivíduos usam as redes sociais, obtendo mais acesso ao conteúdo online de seus parceiros, mais eles tendem a ter ciúmes e posteriormente cometerem o abuso.

Outro fator que podem colocar o indivíduo em risco para o envolvimento no ADRA é o relacionamento homossexual, em que se verificou uma associação entre estar nesse tipo de relação e uma maior frequência de ADRA (Borrajo et al., 2015a; Dank et al., 2014). Tal associação pode ser justificada pela razão de que esse grupo, em função das experiências discriminatórias ou de vitimização sofridas, podem tender a uma maior aceitação e tolerância de conflito e abuso nos relacionamentos, aspecto esse apontado por Hipwell et al. (2013). Estudos futuros poderiam averiguar também a influência do nível socioeconômico, do nível de escolaridade, do grau de religiosidade, da renda familiar e da quantidade de amigos das vítimas e/ ou perpetradores do ADRA.

Fatores ligados ao relacionamento

No contexto dos fatores ligados ao relacionamento, estudos reportam que indivíduos com histórico de abuso no relacionamento passado foram mais propensos a relatarem abuso de namoro cibernético do que aqueles que estavam atualmente em um relacionamento (Borrajo et al., 2015a). Do mesmo modo, o início precoce do namoro e relacionamentos recorrentes foram relacionados a uma maior vitimização de ADRA (Hancock et al., 2017). Esses dados se assemelham aos resultados obtidos por pesquisas na condição de violência tradicional no namoro (Barreira, Lima & Avanci, 2013).

Consideram-se ainda, como fatores importantes a serem verificados em pesquisas futuras, a quantidade de relacionamentos no último ano, a diferença de idade entre o casal, o tempo de relacionamento e a infidelidade no relacionamento.

Fatores relacionados ao comportamento sexual

No que tange ao comportamento sexual, foi verificada uma associação positiva entre a vitimização do ADRA e o comportamento sexual de risco, indicando que vítimas de ADRA apresentam menor probabilidade de uso de anticoncepcionais, maior coerção a reprodução e uma maior exposição (Dick et al., 2014). Além disso, verificou-se que participantes que relataram ter vida sexual ativa no último ano tendiam a serem alvos de vitimização de abuso virtual no namoro (Zwieg et al., 2013b). Ademais, vítimas do ADRA indicavam também serem alvos de sexting e, por sua vez, perpetradores do ADRA indicaram atitudes mais favoráveis frente ao sexting (Peskin et al., 2017).

Esses dados estão de acordo com os encontrados no contexto da violência tradicional entre casais, os quais indicam que padrões de comportamentos sexual de risco estão associados a uma maior probabilidade de vitimização posterior (Alleyne-Green et al., 2016; East & Hokoda, 2015). Além disso, Nagamatsu, Hamada e Hara (2016) informam que indivíduos com uma atitude conservadora em relação à atividade sexual tendem a ser mais cientes do comportamento sexual de risco e, assim, terem uma maior capacidade de reconhecer os sinais de violência. Sugere-se ainda como variável relacionada ao comportamento sexual, igualmente relevante e que pode ser explorada em estudos futuros, a idade da iniciação da vida sexual.

Fatores relacionados ao comportamento antissocial e agressivo

O uso de substâncias foi descrito como um fator de risco para o ADRA, cujas vítimas relataram maior uso de álcool (Machimbarrena et al., 2018; Smith et al., 2018; Watkins et al., 2016) e drogas pesadas (Machimbarrena et al., 2018), assim como também perpetradores informaram maior uso de álcool (van Ouytsel et al., 2016; Watkins et al., 2016) e uso de cigarro (van Ouytsel et al., 2016). Esses dados se assemelham com os encontrados nas relações de namoro tradicional (Niolon et al., 2015).

Não obstante, tendo em vista alguns achados reportarem que associações entre violência tradicional no namoro e uso de substâncias podem variar de acordo com o tipo substância e tipo de efeito —proximal versus variável no tempo— (Reyes, Foshee, Bauer & Ennett, 2014), estudos futuros podem averiguar se essa realidade se reproduz no contexto digital. Além disso, sugere-se ainda buscar conhecer se o uso de substâncias age como redutor de inibições para o envolvimento em comportamentos abusivos online.

Outro fator de risco apontado na literatura para o ADRA foi o cyberbullying, indicando que estar envolvido no ADRA aumenta a probabilidade de envolvimento nessa prática —tanto a vitimização como a perpetração— (Borrajo et al., 2015c; Machimbarrena et al., 2018). Por sua vez, o envolvimento na perpetração do ADRA apresentou-se associado ao bullying (Peskin et al., 2017; van Ouytsel et al., 2017b; Yahner et al., 2014). Esse dado pode ser compreendido pelo fato de que os jovens que usam poder e agressão nas relações entre pares podem transferir esses comportamentos para suas relações românticas (Foshee et al., 2014; Olweus, 2013).

Quanto à relação abuso no namoro / violência entre parceiros íntimos e ADRA, foram identificados, no total, 12 estudos, os quais indicaram que vítimas de abuso digital também relataram serem vítimas da violência tradicional na forma psicológica, física, sexual e injúria (Borrajo et al., 2015a; 2015c; Cava & Buelga, 2018; Marganski & Melander, 2015; Morelli et al., 2017; Reed et al., 2016; Smith et al., 2018; Temple et al., 2016; Watkins et al., 2016; Wolford-Clevenger et al., 2016; Yahner et al., 2015; Zweig et al., 2013b).

Do mesmo modo, também foi verificada uma associação entre a perpetração de violência tradicional e a online entre parceiros íntimos, na forma psicológica, física e sexual (Borrajo et al., 2015c; Crane et al., 2018; Morelli et al., 2017; Reed et al., 2016; Temple et al., 2016; Watkins et al., 2016; Yahner et al., 2015). Como é possível verificar, esses resultados são bastante recorrentes na literatura, o que pode indicar que o abuso tradicional nos relacionamentos amorosos ocorre em conjunto com o abuso online.

Variáveis adicionais desse tópico ainda necessitam ser investigadas, como, por exemplo, o desengajamento moral, o desajustamento escolar ou acadêmico, a violência urbana e comunitária e a exposição à criminalidade.

Fatores Psicológicos

Acerca dos fatores psicológicos, verifica-se que vítimas do ADRA apresentaram elevados índices de sintomas depressivos e ansiosos (Machimbarrena et al., 2018; Wolford-Clevenger et al., 2016; Zweig et al., 2013b) e baixa autoestima (Hancock et al., 2017; Smith et al., 2018). Não obstante, é necessário ampliar essa investigação, uma vez que tais fatores psicológicos são de difícil valorização como fatores de risco, pois não é possível concluir se esses constituem a causa ou consequência do próprio processo de vitimização.

No que tece aos perpetradores do ADRA, foram identificadas altas pontuações em autoestima (Smith et al., 2018), raiva e hostilidade (Deans & Bhogal, 2017; Watkins et al., 2016; Zweig et al., 2013b), assim como ciúme (Deans & Bhogal, 2017; Watkins et al., 2016), e menores pontuações em empatia (Ramos et al., 2017). A raiva e a hostilidade como imperativos ao comportamento agressivo e abusivo é um fator que já vem sendo apontado na literatura (Barlett & Anderson, 2012; Cavalcanti & Pimentel, 2016).

O ciúme, por sua vez, vem sendo apresentado como um desencadeador de conflitos e brigas, como também fator que legitima a violência entre casais (Oliveira, Assis, Njaine & Pires, 2016). Consequentemente, a empatia é apresentada como inibidora de comportamentos agressivos e abusivos (Batanova & Loukas, 2014; Stanger, Kavussanu, McIntyre & Ring, 2016). Outras possíveis variáveis psicológicas que poderiam ajudar na compreensão desse fenômeno são fatores da personalidade, impulsividade, inteligência emocional, psicopatia, hiperatividade, estabilidade emocional, e habilidades sociais.

Fatores familiares

Fatores familiares também são apontados como fatores de risco para o envolvimento no ADRA, apontando que níveis mais altos de comportamentos de controle intrusivos pelo pai (van Ouytsel et al., 2017c), bem como uma maior exposição a um contexto familiar agressivo (Ramos et al., 2017) estão relacionados a uma maior perpetração do ADRA.

Acerca do contexto familiar, fica evidente que a forma como os pais se relacionam entre si e com seus filhos, através de comportamentos de controle e monitoramento, possui uma influência na maneira como seus filhos vão reproduzir esse comportamento com seus pares. Além disso, o indivíduo criado em um contexto familiar agressivo tende a resolver seus conflitos de forma similar ao contexto em que foi socializado, uma vez que acredita ser essa a melhor forma de lidar com seu parceiro (Oliveira et al., 2014). Esses resultados abrem lacunas para estudos futuros que abarquem o conhecer do papel do controle parental da tecnologia, o apoio familiar percebido, os estilos parentais, bem como as habilidades e as práticas parentais no envolvimento do ADRA.

Fatores relacionados à crenças, percepções e normas pessoais

Mitos sobre o amor e justificação de agressão no namoro online foram associados a uma maior probabilidade de perpetrar ADRA (Borrajo et al., 2015b), ou seja, uma visão irreal do amor aumenta a probabilidade de cometer abuso ADRA, sendo inclusive uma forma de justificar tais ações, considerando tal comportamento como uma expressão aceitável de amor.

Além disso, uma maior percepção social das normas dos pares em relação ao abuso virtual nos relacionamentos, bem como, das normas de violência para meninos contra meninas, e o endosso dos estereótipos de gênero foi correlato importante no maior engajamento de perpetração de comportamentos no ADRA (Peskin et al., 2017; van Ouytsel et al., 2017c).

Acerca desses achados, Oytsel et al. (2017c) destaca que indivíduos que se envolvem no ADRA se associam a parceiros que compartilham dessas mesmas atitudes. Do mesmo modo, indivíduos que defendem atitudes estereotipadas de gênero também podem endossar roteiros de gênero no que diz respeito à violência no namoro (Lucero et al., 2014). Outras possíveis variáveis que poderiam ser objetos de investigação são atitudes frente ao abuso digital nos relacionamentos amorosos, representações sociais, valores sociais e aceitação de violência nos relacionamentos amorosos.

Conclusão

Em suma, verifica-se que o abuso digital nos relacionamentos amorosos emerge, por um lado, no contexto da violência entre parceiros íntimos, e relaciona-se intimamente, por outro, com o desenvolvimento das tecnologias de comunição e sua inserção no meio social. Nesta direção, essa temática apresenta-se relevante, tendo em vista suas altas prevalências, expondo vítimas a uma maior vulnerabilidade, sem a necessidade de que o agressor esteja fisicamente presente, bem como, suas implicações negativas.

Em termos de medidas de avaliação, verifica-se um maior uso de instrumentos de autorrelato, os quais buscaram identificar incidência, traçar perfis, identificar fatores de riscos e impactos na saúde dos envolvidos. Não obstante, a maioria dessas medidas não relataram parâmetros psicométricos. Além disso, é possível verificar uma falta de consenso em relação ao conceito de abuso digital nos relacionamentos amorosos e sua operacionalização, demandando uma maior investigação acerca do tema, inclusive dentro de enquadramentos teórico-conceituais.

Outro aspecto a ser apontado diz respeito à multicausalidade do ADRA, emergindo como um fenômeno psicossocial, podendo ser ocasionado por variáveis de diversas ordens, tais como sociodemográficas, relativas ao relacionamento, familiares, psicológicas, relacionadas às percepções, normas e crenças. Nesse sentido, esforços destinados a prevenir a violência digital nos relacionamentos amorosos devem considerar os multifatores envolvidos.

Ademais, ao longo deste artigo, foram feitas diversas sugestões de pesquisas, o que não surpreende, uma vez que o ADRA é um fenômeno ainda recente, carecendo de melhor exploração. Podem ser indicados ainda, o desenvolvimento de estudos empíricos no Brasil, que repliquem os achados apontados na literatura acerca do ADRA, e a nível internacional, pesquisas com delineamento longitudinal, bem como as que utilizem metodologia qualitativa e quantitativa.

Agradecimentos

As autoras agradecem a bolsa concedida pelo CNPQ.

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