Separado há dois anos, ele descobriu que o filho está no exterior quando foi tentar visitá-lo. No portão da casa da "ex", foi abordado por um vizinho que perguntou se o menino tinha viajado. Ao questionar o ex-sogro, recebeu a seguinte informação: "Depois do serviço fui lá ver meu filho, isso em junho deste ano". Eu perguntei ao pai dela: "Cadê o Samuel?". Ele disse que tinha viajado e estava lá [nos EUA].
A reportagem da qual foi retirado o fragmento acima explora um fenômeno crescente nos últimos anos: o aumento da migração de brasileiros para os Estados Unidos (EUA), incluindo o aumento de crianças que cruzam a fronteira México-EUA, acompanhadas por familiares, às vezes por conhecidos ou mesmo desconhecidos, que organizam uma migração familiar e muitas vezes "montam" uma família para cruzar a fronteira num esquema denominado no Brasil como "cai-cai". O cai-cai não é um fenômeno novo. Já era utilizado por outros imigrantes latino-americanos, notadamente mexicanos, para cruzar a fronteira. Essa estratégia migratória, conhecida nos EUA como "catch and release", implica que o imigrante, logo após atravessar a fronteira México-EUA, se entrega aos agentes das fronteiras, solicita o estatuto de asilo e aguarda pela resposta ao pedido, muitas das vezes em detenção.1
Assim, a política adotada pelos Estados Unidos na era Obama/Biden de não separar as famílias imigrantes que chegavam ao país teve um relevante papel no aumento desse fenômeno. Como crianças adolescentes e/ou menores de idade não podem permanecer detidos por mais de 20 dias no país e como, para que sejam liberados, é necessário estarem acompanhados de um responsável, a migração familiar acabou por se tornar uma estratégia para o êxito da entrada nos EUA. Dessa forma, atravessar a fronteira acompanhado de um menor garante, em tese, facilidade e rapidez ao processo.
Como conhecem os migrantes essas estratégias? Em Governador Valadares (GV), cidade da região leste de Minas Gerais, a emigração internacional tem sido uma realidade desde os anos 1960 (Margolis, 1993; Siqueira, 2009). Nesse período, surgiram redes informais de amigos, familiares e conterrâneos que compartilham informações sobre migração, incluindo destinos, oportunidades de emprego e outros detalhes. Contudo, a partir dos anos 2000, as tecnologias da informação e da comunicação (TIC) passaram a desempenhar um papel significativo como fontes cruciais para obter informações e explorar estratégias migratórias.
Atualmente, o YouTube está repleto de canais cujos autores são brasileiros que migraram para outros países e agora compartilham cenas de seu cotidiano nesse novo lugar. Tais cenas vão desde a busca por informações sobre o destino desejado até como chegar ou que estratégias adotar para obter a documentação ou informações sobre emprego. Quando os EUA são o país de destino, esses canais expõem as diferentes experiências da travessia irregular pela fronteira do México. Assim, os "migrantes do YouTube" (MYT) (Pchelkina & Timoshkin, 2020) figuram como uma fonte abundante de informações sobre a estratégia denominada "cai-cai".
O objetivo deste estudo é examinar o impacto das TIC, particularmente do YouTube, nas dinâmicas da migração irregular de brasileiros para os EUA. Ao combinar narrativas dos MYT e de jovens de GV, busca-se compreender como as TIC transformam a experiência migrante (Ponzanesi, 2019). A pesquisa utiliza abordagem etnográfica conju gada, envolvendo campos on-line e off-line, incluindo entrevistas e análise de canais de YouTube. Essa abordagem, pouco explorada, examina a intersecção entre MYT e migração irregular, contribuindo para a literatura e preen chendo uma lacuna em estudos de emigração brasileira, além de avaliar o potencial heurístico dos canais dos MYT para estudos de (i)mobilidade e migração internacional.
O termo "conectividade", em estudos de mídia e comunicação, refere-se às relações habilitadas pelas TIC. Isso varia dependendo de se o enfoque está nas relações cotidianas on-line ou na internet como domínio autônomo. Essa conectividade demanda novas abordagens analíticas, adaptações criativas e ferramentas, pois se dá por aplicativos, canais on-line e mídias sociais, gerando noções de comunidades virtuais e diásporas digitais (Alinejad, 2019).
Assim, o "migrante conectado" do século 21, segundo Diminescu (2008), é um migrante que vem incorporando TIC à sua experiência migratória. O termo emergiu pela primeira vez para conceituar as experiências pós-internet dos migrantes e procurou extrapolar as noções binárias de um país enquanto "casa" ou "anfitrião" para, a par disso, considerar cada vez mais as experiências dos migrantes mediadas digitalmente. Assim, o termo abarca conceitos como copresença digital, redes portáteis de pertença e hibridismo, além de realçar a importância da "vida digital" como parte das viagens físicas que os migrantes realizam (Diminescu, 2008).
Nos últimos anos, a investigação acadêmica explorou conectividade e migração focando os impactos das TIC em migrantes (Akakpo & Bokpin, 2021). Dekker et al. (2018), investigando como imigrantes exilados sírios usam as TIC, demonstra que as redes sociais mediadas pelosmartphone são uma fonte crucial de informação na tomada de deci são de migração. A maioria dos migrantes tinha acesso a informações de mídia social antes e durante sua migração, o que possibilitou improvisar e modificar suas rotas com base nas informações mais recentes e relevantes.
Os resultados desses estudos indicam que os migrantes preferem informações de mídia social que se originam de laços sociais existentes e informações baseadas em experiências pessoais. Essas informações, em geral, são consideradas mais confiáveis. Contudo, os migrantes usam várias estratégias para validar rumores presentes nas mídias sociais e vêm de fontes desconhecidas. As estratégias por eles empregadas incluem verificar a fonte de informação, validar informações com laços sociais confiáveis, triangulação de fontes e comparação das informações com a sua própria experiência (Dekker et al., 2018).
Alencar (2018) afirma que, devido à influência das TIC, a migração se tem tornado mais orientada para a infor mação, e as mídias sociais vêm se desenvolvendo em uma ferramenta importante com a qual os migrantes contam para suas decisões. A mídia social tem a ação de minimizar o risco e o custo da migração, bem como a de incentivar as pessoas a se mudarem devido à disponibilidade de informações para futuros e atuais migrantes (Dekker et al., 2018). Sendo a tomada de decisões sobre migração algo complexo, as TIC ajudam a simplificar as decisões por conta das informações que apresentam (Haas, 2010). Assim, há indícios de uma relação positiva e reforçadora entre a quantidade de informações relacionadas à migração que as pessoas buscam na internet e suas decisões de migração (Alencar, 2018). Newell et al. (2016), contudo, investigando como migrantes indocumentados estão usando informações antes e durante a migração através da fronteira, argumenta que as TIC parecem estar desem penhando um papel importante em muitas das práticas de informação desses migrantes.
Um importante fluxo de pesquisa está trazendo à tona o papel essencial desempenhado pelas TIC em ajudar refugiados e migrantes indocumentados a obter informações vitais para realizar suas viagens com sucesso. Contudo, recentemente, os estudiosos de mídia e comunicação argumentaram que um grupo amplamente negligenciado nos estudos de mídia social são os migrantes que produzem blogs de vídeo no idioma de seus países de origem para uma comunidade da diáspora transnacional. Os pesquisadores argumentam que falta a esse campo de estudo explorar a agência e a singularidade dos canais migrantes como influenciadores dentro de suas próprias comunidades (Pchelkina & Timoshkin, 2020). A esse respeito, entendemos que investigar os imigrantes no YouTube permite conhecer as formas como os migrantes e os futuros migrantes usam as TIC em suas experiências e trajetórias migratórias. Adicionalmente, possibilita entender como as mídias sociais estão transformando as redes de migração e, assim, mudando o limiar para a migração indocumentada de brasileiros.
No entanto, como ressaltado por Malmberg e Pantti (2020), embora o YouTube seja reconhecido como um espaço transnacional de autorrepresentação e construção de comunidade, é crucial estar ciente de que sua ênfase no entretenimento e na comercialização pode, eventualmente, limitar o discurso crítico e o ativismo político. É imprescindível, portanto, ressaltar os riscos e as contradições inerentes à produção e ao consumo de informação em plataformas como o YouTube. A lógica algorítmica e mercadológica subjacente, que visa obter likes e promover serviços de assessoria para imigrantes, muitas vezes molda a produção de Vlogs por migrantes e destinados a eles, contribuindo para a criação de visões idealizadas sobre a migração bem-sucedida e destinos migratórios como eldo rados. É importante destacar que muitos migrantes dependem de seus canais como fonte de subsistência, o que pode influenciar o conteúdo produzido e condicionar suas escolhas narrativas, visando à maximização da audiência.
Assim, na esteira da revolução digital, o "migrante on-line" -como uma figura social de vanguarda no cruzamento do homo numericus e do homo mobilis (Nedelcu, 2020)- aparece como um tipo ideal de ator da sociedade contem porânea, com práticas arraigadas em contextos sociais complexos, com interconectividades e circulação de pessoas, objetos, ideias e regulamentos. Os estudos de migração trouxeram à tona o papel crucial que as TIC desempenham na diversificação, intensidade e amplitude das práticas migratórias transnacionais. Em particular, estudos de diásporas digitais (Leurs, 2015) e famílias transnacionais (Nedelcu & Wyss, 2016) mostraram que as TIC representam recursos criativos que permitem que populações dispersas se reúnam, mobilizem-se e atuem além-fronteiras.
Esses estudos revelaram que os migrantes "conectados" (Diminescu, 2008; Leurs & Ponzanesi, 2018) melhoraram fortemente sua capacidade de gerenciar vidas transnacionais. No entanto, como os migrantes com baixo capital econômico e cultural ou com status de migração irregular ou vulnerável -ou seja, migrantes precários- estão aproveitando os recursos digitais, geralmente permaneceu até recentemente um tópico pouco investigado (Leurs & Smets, 2018).
Ponzanesi (2019), ao descortinar a forma como a mobilidade e a migração se cruzam com a ascensão das TIC e o aumento da conectividade digital, argumenta que a abordagem crítica da diáspora digital permite compreender a mobilidade humana contemporânea como moldada e constitutiva de um mundo desigualmente interconectado. A diáspora digital é "mutuamente constituída, aqui e ali, por meio de corpos e dados, através de fronteiras e redes, online e offline, por usuários e plataformas, por meio de práticas materiais, simbólicas e emocionais que refletem relações de poder que se cruzam" (Candidatu et al., 2019, p. 34). Essa definição coloca a diáspora digital mais como uma ferramenta heurística que abre caminhos epistemológicos e metodológicos para uma investigação mais prática do digital e do material em sua coconstituição.
É importante repensar a migração à luz da mobilidade, para, assim, aprimorar as diferentes formas de mapear o movimento e o reassentamento como contínuos e não estáticos. Embora "mobilidade" e "migração" não sejam sinônimos ou intercambiáveis, ambos os termos se referem a definições problemáticas de circulação transnacional que focam rupturas e fluxos (voluntários ou forçados), captando a complexidade das pessoas em movimento. A visão da migração como exclusivamente ligada a movimentos populacionais nos últimos tempos é bastante restrita e distorcida.
Na atualidade, os estudos críticos sobre migração expandiram seu escopo e assumem que os migrantes têm alguma forma de agência ou controle sobre seus movimentos, além de se envolverem com discursos, represen tações e contestações. Além disso, a migração, em si, tem muitos subtextos: da migração educacional à migração econômica; da migração ambiental à migração forçada; do reagrupamento familiar aos requerentes de asilo; de refugiados a tráfico e contrabando ilegal, tornando a interseção entre etnia, classe e gerações difícil de separar (Ponzanesi, 2019).
Assim, a "justiça da mobilidade" -um termo recém-desenvolvido- surge combinando as duas vertentes -migração e mobilidade- de forma crítica. Embora se reconheça ser a mobilidade um direito fundamental de todos, é vivida de forma desigual (Sheller, 2018). Enquanto conceito, sua preocupação é a de melhorar a vida das pessoas, permitindo mobilidades como uma base comum para a justiça social. Isso inclui questões amplas, como melhorar infraestruturas, serviços de habitação, transporte, educação e saúde, além de questões relativas a con dições ambientais, ao lado de considerações estruturais, como poder, governança e responsabilidade. Também dá atenção às fronteiras móveis, à justiça racial, à justiça migrante e a ambientes virtuais digitais, o que claramente associa essas questões com os objetivos e preocupações dos estudos críticos de migração.
Este artigo é parte integrante de uma pesquisa maior, intitulada "To leave or to stay? Rethinking the mobility of young people in Brazil", em andamento, e que tem por finalidade explorar os desejos e capacidades de (i)mobilidade dos jovens do Sul global. A proposta metodológica é de caráter etnográfico. Assim, a pesquisa emprega uma aborda gem qualitativa, a partir da análise de narrativas de jovens que não migraram e, portanto, vivenciam a imobilidade em um contexto de grande mobilidade internacional. Emprega, igualmente, a observação da cotidianidade na região de GV e de relatos produzidos pelos MYT, priorizando, dessa maneira, as vivências e as representações que esses sujeitos fazem de sua realidade.
A primeira etapa do levantamento de dados foi a que estamos denominando "off-line", que consistiu no trabalho de campo realizado entre abril de 2019 e maio de 2022, e contou com uma exaustiva observação participante e com a realização de entrevistas em profundidade de 35 jovens entre 18 e 35 anos, que estavam em GV no momento da coleta de dados. Todos os dados das pessoas entrevistadas foram anonimizados, utilizando-se pseudônimos para preservar sua identidade. As perguntas recaíram sobre os planos e capacidades de mobilidade desses jovens para os próximos dois anos. Para este artigo, foram selecionadas cinco entrevistas, durante as quais se levantaram ques tões a respeito do uso das TIC como o YouTube, enquanto fonte de informações para quem quisesse ou não migrar.
Durante a segunda etapa da pesquisa empírica, analisou-se como os MYT compartilham suas experiências com outros interessados em migração. Iniciou-se com uma busca exploratória, usando palavras-chave como "Cai-cai EUA", "Cai-cai México" e "Cai-cai Estados Unidos". Para focar a pesquisa, a técnica da bola de neve foi aplicada a partir do primeiro vídeo do canal Vlog X, indicado por uma entrevistada. Os critérios incluíram a presença da palavra "cai-cai" no título, com duração acima de 20 minutos, canais ativos nos últimos dois meses, narrativa em primeira pessoa e imigrantes nos EUA. O número de visualizações não foi considerado como critério de seleção dos vídeos, pois a pesquisa, em vez de focar exclusivamente os vídeos mais populares, priorizou a inclusão de uma variedade de fontes e perspectivas na análise. Foram selecionados três vídeos de youtubers para a análise: Vlog X, Vlog Y e Vlog Z. Por procedimento ético da pesquisa, retiramos a identificação dos canais e dados que pudessem identificar os/as youtubers.
É importante, contudo, destacar que, sendo este um projeto definido como de natureza exploratória, a escolha metodológica que o norteia procurou criar condições específicas para que fosse possível explorar, de forma flexí vel, abrangente e aberta, o fenômeno do "cai-cai", para o qual ainda não existe suficiente base teórica ou empírica que permita elaborar, a priori, um quadro analítico-conceitual mais definido. Isso, entretanto, não impede que o material analítico recolhido seja suficientemente coerente e valioso para, a partir daqui, produzirmos não apenas categorias conceituais substantivas e empiricamente sustentadas (Uriarte, 2012), mas também melhorar o debate teórico sobre a complexa relação que as TIC desempenham na vida dos migrantes.
Na região de GV, leste de Minas Gerais, a imigração indocumentada tem um especial protagonismo, sendo bastante conhecida, normatizada e amplamente investigada (Siqueira, 2009). Na região, o fluxo de emigração internacional tem ocorrido desde a década de 1960, chegando a constituir redes migratórias consolidadas. Nos anos 2000, novas estratégias migratórias começaram a emergir, bem como a modificar as características das pessoas que se inserem na "aventura de migrar" para os EUA, uma vez que, diante das dificuldades de conseguir visto norte-americano, acabam por se arriscar pelas rotas de travessia da fronteira com o México. Nesse contexto, na segunda década do século 21, cresceu significativamente o número brasileiros presos e/ou deportados (Assis, 2021).
Dessa forma, tem-se observado, nos últimos anos, um significativo aumento no número de pessoas/famílias que têm deixado a região de GV com destino aos EUA de forma irregular. Em 1997, os investigadores estimaram que 18 % dos agregados familiares na região tinham pelo menos um membro como migrante internacional. Em 2007, uma nova pesquisa constatou que esse percentual aumentou para 46 %. Em 2010, o censo brasileiro identificou GV e arredores como a região do Brasil que possui o maior número de migrantes transnacionais: 35 388 emigrantes (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010). A partir de 2019, o endurecimento da política migratória pelo governo de Donald Trump tornou mais difícil a concessão de vistos, empurrando muitos imigrantes potenciais para a migração indocumentada. Nesse cenário, pesquisadores e lideranças de GV apontaram para um crescimento da onda migratória familiar pelo "cai-cai", o que se refletiu, entre outras coisas, na redução da frequência escolar e no decréscimo da mão de obra especializada em GV, algo que repercutiu até na mídia nacional (O Globo, 2023). Essas notícias e observações empíricas na cidade, realizadas durante o campo, são corroboradas pelas informações sobre prisões de brasileiros com crianças na fronteira (Assis, 2021). No ano de 2021, esse tipo de apreensão atingiu recordes históricos. Segundo dados do Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras, foram 22 102 apreensões entre outubro de 2020 e maio de 2021 (Dias & Mantovani, 2021).
Ainda, em 2018, uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha revelou que aproximadamente 43 % dos bra sileiros com mais de 24 anos manifestaram o desejo de emigrar do Brasil (Pinto, 2018). Na faixa etária dos 16 aos 24 anos, esse número chegou a 62 %. Essas estatísticas significam a existência de um grupo significativo de pessoas interessadas em migrar, o que implica o estabelecimento de um público potencial para canais do YouTube que abordam o tema da migração.
A escolha do YouTube como objeto de estudo tem várias justificativas. Primeiramente, uma busca superficial no segmento de "cai-cai" revela numerosos canais de migrantes brasileiros focados em experiências de migração indo cumentada. Em segundo lugar, a especificidade dessa plataforma sugere acesso aberto a relatos de vídeo regulares da vida cotidiana dos migrantes. Terceiro, o YouTube é a segunda fonte mais usada após o Google e uma rede social digital amplamente popular (Pchelkina & Timoshkin, 2020). Além disso, a escassez de estudos sobre canais relacio nados à migração brasileira no YouTube, especialmente no campo da migração, destaca sua relevância. Assim, a plataforma oferece uma oportunidade significativa para explorar a interseção entre migração, mobilidade e TIC.
A esse respeito, esses MYT oferecem significativa fonte de conhecimento sobre o fenômeno da migração indocumentada tendo como estratégia o "cai-cai". Além disso, a especificidade dessa plataforma e seu foco no blog do quotidiano permitem-nos pensar que os estudos sobre canais com a temática migratória no YouTube representem uma oportunidade para aprofundar a compreensão da natureza onipresente das TIC, sob todos os aspectos da experiência de um imigrante (Miller & Horst, 2015).
Embora a investigação acadêmica sobre o "migrante conectado" (Moran, 2022) tenha proliferado globalmente nos últimos 15 anos -e venha demonstrando o papel significativo das TIC nos processos de tomada de decisão, a busca por informações e a construção de comunidades antes durante e após a migração (Goggin & Zhuang, 2023), o protagonismo de plataformas como o YouTube como fontes de informação no contexto da migração indocumen tada necessita de mais investigações (Zijlstra & Van Liempt, 2017)-.
Nesse aspecto, Dhoest (2020) afirma que os contextos off-line são fundamentais para entender o cotidiano do uso da mídia digital de maneira não centrada na mídia. Além disso, a perspectiva da antropologia digital (Miller & Horst, 2015) permite situar a pesquisa do digital no continuum on-line-off-line, num espectro de práticas cultural mente específicas que permeiam o digital com diferentes significados. Ou seja, o digital é visto como o meio pelo qual o significado circula através de práticas corporificadas. Logo, a digitalidade não é vista como desligada da realidade, mas como uma continuidade entre os mundos on-line e off-line, que coloca diferentes acentos e proble mas na compreensão da sua complementaridade (Silva, 2019).
Assim, o presente estudo estabelece uma conexão entre os campos on-line e off-line com o objetivo de apri morar nossa compreensão de uma das estratégias utilizadas pelos brasileiros para a imigração irregular para os EUA. O estudo, especificamente, esforça-se para identificar e rastrear a interconectividade que existe entre móveis e imóveis, integrando, assim, o conceito de (i)mobilidade na investigação de mídia e migração. Ora, sendo este um debate ainda escasso, o trabalho contribui conceitual e metodologicamente para esse campo de pesquisa emer gente (Smets, 2019). Nesse sentido, Leurs e Ponzanesi (2018) apontam para a importância do surgimento do campo interdisciplinar de estudos de migração digital e argumentam que a internet não é só um produto de ciência e tecnologia, mas, antes, um meio cultural em que artefatos culturais e textos sociais são produzidos e circulados.
A cidade de GV, ao lado de sua vizinhança, constitui o centro da dinâmica migratória global dos cidadãos brasileiros. Essa região de Minas Gerais possui a maior representação entre os brasileiros residentes em Massachusetts, e a cidade se destaca como a que contribui predominantemente para os fluxos migratórios internacionais, ocupando o primeiro lugar entre as dez cidades brasileiras nesse quesito (Soares et al., 2023). A emigração internacional dessa região começou na década de 1960. Foi, a partir de 1980, contudo, que alguns estudiosos chamaram a atenção para a emergência de uma "cultura migratória" na região de GV, sendo esta influenciada pelo estilo de vida esta dunidense. Essa cultura desempenhou um papel significativo no incremento dos fluxos migratórios com destino àquele país (Siqueira, 2009). Os emigrantes provenientes dessa região seguem as tendências tradicionais dos trabalhadores temporários na América Latina, embora encontrem restrições impostas pelos países de destino, especialmente pelos EUA (Soares et al., 2023).
As políticas de contenção migratória do governo dos EUA, particularmente desde o início da década de 1990, acentuaram ainda mais a irregularidade dos fluxos migratórios internacionais na cidade e região. O serviço diplo mático dos EUA tem dado atenção significativa à emigração de GV e, desde 1994, tem dificultado a emissão de vistos para pessoas nascidas naquela cidade (Margolis, 2003). Em 2006, a região surgiu como a principal fonte de emi gração irregular brasileira para os EUA (Soares et al., 2023). Além disso, a implementação de políticas restritivas de controle de entrada pelos EUA na década de 1990 deu origem a uma indústria migratória ilícita em GV, fazendo com que novos atores sociais surgissem no contexto da migração Brasil-EUA (Fazito & Soares, 2015).
Assim, a jornada de deslocamento é marcada por conexões pessoais que ligam migrantes a intermediários responsáveis por os transferir para os EUA. Entre os principais obstáculos enfrentados por possíveis migrantes inter nacionais irregulares de GV que buscam entrar em território estrangeiro, é essencial reconhecer o árduo esforço necessário para: 1) persuadir seus parentes mais próximos da necessidade de arriscar o empreendimento migra tório; 2) garantir os meios financeiros necessários para fazer frente ao custo das despesas de viagem; 3) garantir o acesso seguro à rede internacional de migração; 4) garantir um visto de turista para residência legal e emprego no nação-alvo; 5) obter documentação fraudulenta para permitir a aquisição do visto de turista; e 6) empreender a perigosa passagem clandestina da fronteira para a nação de destino na ausência de visto (Soares et al., 2023).
A narrativa de Rafael, um jovem de 22 anos, casado e pai de uma filha de oito meses, reflete a aspiração comum de muitos jovens da região por uma qualidade de vida melhor em um novo país. Seu discurso demonstra a impor tância das redes sociais e do suporte familiar na decisão de migrar (Dekker et al., 2018). Suas observações sobre as dificuldades financeiras e burocráticas, associadas ao processo migratório, exibem as barreiras práticas (Leurs & Smets, 2018) e as desigualdades enfrentadas por migrantes com recursos limitados:
Desde que eu era criança eu tenho o sonho de morar nos EUA, mas nunca tive a chance de fazer isso. É caro, sabe? É caro e complicado. Não é fácil para a gente aqui de Valadares conseguir um visto. Você precisa ter dinheiro ou parentes que estão lá para te ajudar. Eu não tenho parentes lá e nem forma para pagar a traves sia. Aqui você ganha pouco e a vida é dura. Minha esposa está sentindo isso agora que temos um bebê. Cada consulta médica é muito dinheiro que a gente tem que deixar lá. Antes do bebê, ela nunca havia pensado seriamente em ir para lá, mas agora começou a pensar melhor. Eu tenho insistido com ela para irmos, por que isso será o melhor para a nossa família. Ela tem parentes lá que nos ofereceram ajuda financeira para fazer isso; eles garantem a nossa ida. Eles estão sempre dizendo para ela ir, que eles vão ajudar. Eu sei que ela, assim como eu, vê como a vida das famílias que vivem lá é melhor que aqui. Então, por que ficar? Tenho conversado bastante com ela, e sempre digo que o melhor que podemos fazer pela nossa família é ir para os EUA. Temos que arriscar o cai-cai, agora que temos uma bebê e aproveitar essa chance. (Rafael, 2022)
Em 2021, o chefe do Serviço de Repressão ao Tráfico de Pessoas e ao Contrabando de Migrantes da Polícia Federal divulgou que, em média, cada migrante paga cerca de USD 20 mil aos coiotes pela travessia irregular da fronteira. Em 2019, uma das agências internacionais de migração na microrregião de GV cobrou entre USD 20 mil e USD 22 mil de cada migrante irregular, de acordo com a Polícia Federal Brasileira (Lopes et al., 2021b). Nesse sen tido, o fluxo ininterrupto da migração internacional de valadarenses depende do apoio monetário dos membros da rede pessoal do migrante. "52,7 % dos emigrantes da região de GV conseguiram cobrir as despesas de viagem por meio de empréstimos ou doações de parentes e amigos" (Soares et al., 2023, p. 2), dados os altos custos mone tários associados à preparação da migração irregular.
Diversos estudos têm destacado a relevância das redes sociais na emigração de Valadares. No entanto, é fun damental reconhecer que a interação entre não migrantes e migrantes no espaço e no tempo transcende as redes sociais baseadas em laços de parentesco e amizade, abrangendo também as redes sociais virtuais, cujas funcionali dades devem ser consideradas devido à capacidade das TIC de superar distâncias e aproximar lugares (Silva, 2019). As TIC facilitam a observação e a interpretação das dinâmicas de comunicação e conexão, gerando sociabilidade na esfera da mobilidade. Elas desempenham um papel central e vital na compreensão das migrações como fenô meno transnacional. Uma das funções das TIC na experiência migratória é conferir agência aos sujeitos, permitindo que eles superem a distância física e geográfica entre os locais de origem e destino dos migrantes.
Os discursos dos entrevistados a seguir, migrantes em potencial, a respeito do uso das TIC, demonstram como os MYT os ajudam na tomada de decisão. Daniela, uma jovem de 34 anos, que, com seu filho de 16 anos, estava se preparando para realizar a arriscada travessia clandestina da fronteira no momento da entrevista, evidencia as motivações, as preocupações e as estratégias que permeiam as decisões individuais de buscar novas oportunidades em outro país e o papel do YouTube nesse contexto:
Eu nunca pensei em sair do Brasil antes. Eu comecei a pensar nisso por conta do meu filho que está com muita vontade de ir, sabe? Ele, desde que completou 16 anos, está falando direto nisso. E quer ir para a América de qualquer jeito. Ele disse que se eu não o levar agora ele vai sozinho quando completar 18 anos. Eu tenho medo de que ele vá mesmo, e nunca mais volte, como muitas pessoas daqui da cidade. Então resolvi que vou com ele, porque ele é meu único filho; tenho que fazer isso por ele. A minha família é eu e ele, apenas. E se ele for embora depois, eu vou ficar aqui sozinha. Temos que aproveitar enquanto ele é menor e tentar atravessar pelo cai-cai juntos, enquanto temos chances [...]. Eu quero muito ficar perto do meu filho; por isso eu tenho buscado informações para que a travessia dê certo, sabe? Hoje isso é fácil, né? Você vai no YouTube e tem diversas pessoas falando sobre como funciona o cai-cai. O que falar, como responder, o que fazer e tal. Então eu tenho visto bastante vídeos no YouTube; vejo vídeos de pessoas que conseguiram, que não conseguiram e também de advogados explicando tudo sobre o cai-cai. Mas eu vejo mais mesmo os canais de imigrantes que já passaram, porque gosto de conhecer as experiências pessoais. (Daniela, 2023)
Sua ênfase na influência do desejo de seu filho em migrar destaca a dinâmica familiar como um fator crucial nas considerações migratórias (Haas, 2010). A expressão do medo de perder o filho para uma emigração indepen dente, com base na experiência de outros membros da comunidade que não retornaram, reflete as preocupa ções emocionais e os riscos percebidos associados à migração (Sheller, 2018). Contudo, a escolha de Daniela de o acompanhar na jornada, motivada pelo vínculo familiar, remete à importância das relações sociais na tomada de decisões migratórias (Dekker et al., 2018). A busca por informações sobre a travessia pelo "cai-cai" por meio de vídeos dos MYT destaca a influência crescente das TIC na formação de expectativas e estratégias dos aspirantes a migrantes (Leurs & Smets, 2018). De forma semelhante, Caio, um jovem casado, de 26 anos, e pai de duas crianças (uma de três anos e outra de sete meses), tem buscado os relatos dos MYT para obter informações sobre o "cai-cai":
Como eu te disse antes, nós devemos atravessar até o final do mês, se tudo der certo. E a nossa maior preocupação é com os filhos, né? Então temos tentado nos preparar da melhor forma, sabe? Nós esta mos sempre vendo os vídeos que surgem no YouTube para estarmos preparados para ir na hora que isto acontecer, tipo: como vestir os meninos, o que levar de comida, quais os remédios para as crianças, o
que ter em atenção durante a detenção. No YouTube tem muitas informações para você se preparar para a travessia, sabia? Tipo, tem uma mulher lá que no canal dela previne que muitas crianças passam mal com os burritos [tipo de um sanduíche] que servem enquanto estamos presos. Isso é uma questão que estamos procurando informações para que o meu filho mais velho não passe mal, porque o pequeno não tem problema, porque ele ainda está mamando no peito. (Caio, 2022)
Caio evidencia as preocupações práticas e específicas relacionadas à migração, mostrando a relevância das informações on-line na formação de expectativas e no planejamento de migrantes (Newell et al., 2016). Seu relato ilustra como os recursos digitais são utilizados na preparação da travessia. Vejamos o que Juliano, um jovem de 30 anos, casado e pai de um filho de quatro anos, que pretende atravessar a fronteira com sua família nos próximos meses, disse:
Vendo os vídeos mais recentes, nós resolvemos que vamos pela Guatemala, e depois seguimos de ônibus até o México, ainda não decidimos para onde. Se vamos para Sonora ou Ciudad Juárez, isso vai depender quando estivermos lá no México. Antes, a gente estava pensando em ir para Cancún, como se fossemos de férias..., mas tem muitos imigrantes no YouTube dizendo para não fazer isso, porque pode ser que não consigamos entrar no México. Eles dizem que o melhor agora é ir até a Guatemala e de lá subir. Nós esta mos indo assim, achamos melhor. Temos que estudar as coisas o melhor que pudermos para dar certo, porque não vamos com coyote, sabe? Por isso que o YouTube, lá, tem sempre informações recentes e isso nos ajuda a estar preparados para essa empreitada. (Juliano, 2022)
Da mesma maneira, Mariana, uma jovem de 24 anos, casada e mãe de duas crianças (de três anos e de um ano), explica como a decisão da família foi tomada com base nos canais dos MYT:
Nós estávamos pensando em ir para os EUA há uns dois anos atrás, quando ainda tínhamos uma bebé apenas, mas mudamos de ideia. Por quê? Porque comecei a pesquisar no YouTube sobre a travessia e a vida lá. A minha filha tem asma e tanto a questão da travessia como as questões de saúde me preocupavam. [...] Eu vi muitos vídeos, e, na maioria, as mulheres relatam que nem elas nem os filhos foram maltratados, mas as condições enquanto estão detidas não são as melhores. Eu vi pessoas que falam que ficaram 3 dias; outros, 12 dias, e estive vendo muitas experiências diferentes no YouTube para basear a decisão. Mas isso para mim nem foi o pior, o pior foi quando descobri que, caso a minha filha passe mal lá na América, ela pode até morrer, porque estamos lá ilegal e não temos plano de saúde. YouTube é muito bom para você saber das coisas que acontecem lá direitinho... eles contam a forma como você é tratado, falam da questão da saúde... e de tudo do dia a dia lá. Nós fomos vendo esses vídeos e os vídeos que contam das travessias (jornada); daí começamos a pensar que o melhor mesmo era ficarmos aqui. (Mariana, 2023)
Essas narrativas demonstram como os MYT influenciam significativamente asas motivações dos migrantes, desempenhando um papel crucial na decisão de migrar ou de permanecer. As narrativas, compartilhadas pelos MYT, criam uma representação vívida das possíveis oportunidades e desafios da migração internacional. Ao confiar nessas experiências relatadas, os migrantes utilizam uma avaliação de risco calculado, balanceando os potenciais benefícios de uma vida melhor com os riscos e complexidades inerentes à jornada.
Essa dinâmica espelha as ideias de confiança, risco e risco calculado, com relação à modernidade, época em que os migrantes confiam nas informações disponíveis para tomar decisões informadas, mas também reconhecem a natureza imprevisível e os possíveis riscos a serem enfrentados (Giddens, 1991). Mesmo quando a travessia não ocorre da maneira esperada, resultando em deportação, prisão, muitas vezes ainda é narrada como aventura. Nesse contexto, os MYT não apenas informam escolhas individuais, mas também moldam a percepção da migração como um empreendimento complexo e arriscado, no qual a avaliação do risco é intrinsecamente ligada a expe riências compartilhadas por outros migrantes (Giddens, 1999).
As disparidades de acesso à internet, contudo, as habilidades digitais e os recursos financeiros podem criar desigualdades entre os potenciais migrantes, limitando seu pleno envolvimento e o benefício das oportunidades oferecidas pela conectividade digital. Este é o caso de Rafael, um jovem de 21 anos, casado e pai de uma filha, que vive na zona rural da região:
Esse tal de YouTube eu não sei usar muito bem não; tem que escrever direitinho lá o que é que você quer ver. A minha mulher sabe mais que eu, mas não adianta muito não, porque aqui em casa não tem internet. Só tenho a internet no telefone e aqui na roça não funciona bem, sabe... às vezes demora muito para abrir... aí eu perco a paciência. Não dá para ver isso direito. Eu sei que tem muita gente lá na internet que está falando sobre o cai-cai... mas não sei se eles falam realmente a verdade toda lá mesmo... porque as pessoas falam muitas mentiras [... ] Mas a gente aqui não precisa muito do YouTube não, para saber das coisas que vamos encontrar lá. Sabe por quê? Porque aqui, o povo todo que vai mandar áudio, foto para a gente no WhatsApp, contando as coisas que acontecem lá; então a gente vai ficando informado, sabendo de tudo que está acontecendo e aprendendo o que é para fazer. (Rafael, 2022)
Esse relato demonstra que a interconectividade digital não é universalmente equitativa e exibe limitações como a do acesso à internet, assim como a falta de habilidades digitais e de recursos financeiros podem criar lacunas signi ficativas no envolvimento e benefício das oportunidades oferecidas pela conectividade digital (Leurs & Smets, 2018). O relato também ressalta a relevância de redes sociais mais acessíveis, como o WhatsApp, em comunidades com limitações de acesso à internet. Além disso, enfatiza a qualidade e a confiabilidade das informações provenientes de redes sociais digitais e de contatos pessoais para orientar aspirantes a migrantes (Newell et al., 2016).
Por fim, é preciso lembrar que o processo migratório brasileiro para os EUA não se distribui uniformemente pelo território nacional. Nesse contexto, a noção de "capital cordial" (Fusco, 2005) torna-se fundamental para compreender essa dinâmica. O capital cordial envolve a troca de recursos não econômicos, como informações e favores, por meio de laços de parentesco e amizade, acompanhados por mecanismos de reciprocidade e solida riedade. Esses elementos explicam a conexão entre as regiões de origem e destino, a expansão do movimento, os critérios de seleção e a adaptação dos migrantes ao novo ambiente. Essa perspectiva contribui para explicar a existência de regiões específicas, com uma alta concentração de imigrantes, unidos por redes migratórias vinculadas a áreas específicas de destino.
O primeiro vídeo analisado, do canal Vlog X, apresenta uma narrativa densa e abrangente, oferecendo uma visão detalhada da trajetória migratória de um casal brasileiro do YouTube. Este Vlog destaca os desafios práticos enfrentados durante a travessia da fronteira México-EUA e explora os aspectos emocionais da migração "cai-cai".
Ao abordar a importância da rede transnacional, dos recursos financeiros e dos contatos no país de destino, o Vlog X exibe a complexidade e a interconectividade das decisões migratórias.
Também destaca as implicações psicológicas da migração, especialmente para as crianças, conforme esse trecho do vídeo: "Lembrando, quem sofre mais são seus filhos. Eu sofri psicologicamente porque eu vi o meu filho sofrer [...]. Se caso vocês forem vir, eu vou deixar de alerta para vocês: segure bem firme na mão dos filhos de vocês, porque se você soltar a mão dos filhos, infelizmente eles não esperam, eles ficam para trás. É um alerta que dou a vocês: segurem bem os seus filhos. Se puder carregar seu filho, é o melhor" (MYT, Vlog X).
Do mesmo modo, o Vlog Y retrata a jornada migratória de uma família que considerou diferentes opções antes de optar pelo método "cai-cai". Destaca-se a reflexão sobre o processo decisório, incluindo a ponderação dos desa fios, a pesquisa prévia no YouTube e as motivações familiares subjacentes. Ao enfatizar o cansaço, o medo e as oportunidades futuras para os filhos, o Vlog Y oferece insights sobre as dificuldades envolvidas nas escolhas migra tórias e exibe o conflito entre a busca por um futuro melhor e o reconhecimento da ilegalidade da migração que os migrantes experimentam. Nas palavras da entrevistada: "Gente, não é fácil! É muito cansativo, dá muito medo. A gente sabe que é errado fazer isso. Só que a gente também pensa no futuro deles, né?".
Já o Vlog Z oferece uma abordagem prática e informativa, concentrando-se nos controles migratórios e nas dificuldades enfrentadas durante a jornada. Destacam-se os conselhos úteis para outros potenciais migrantes, abordando detalhes como roupas, sapatos e medicamentos permitidos nos centros de detenção. A ênfase na influência do agente intermediário (coiote) destaca o papel crítico de facilitadores na migração irregular. Destaca, ainda, as questões emocionais vividas durante a jornada, evidenciando a tensão e o trauma associados à inte ração com agentes de fronteira nos EÜA. A narrativa a seguir demonstra as complexidades práticas e emocionais vividas pelos migrantes:
Muita gente fica com dúvida em relação às perguntas. Eu não me lembro de tudo, porque teve muita coisa que eu prefiro bloquear da minha mente. Porque faz a gente sofrer demais. Então, não me lembro com exatidão tudo o que eles perguntaram. O que me lembro é que eles nos perguntaram por que estávamos ali. E o nosso contato já havia nos orientado a falar que a gente não queria voltar para o Brasil. Que a gente tinha medo de voltar para o Brasil porque a criminalidade estava muito alta e que a gente não queria que os nossos filhos se envolvessem nesse mundo. (MYT, Vlog Z)
Nos três vídeos, os MYT deixaram claro que não compartilham essas histórias com o objetivo de persuadir a realizar a travessia irregular para os EUA, mas para ajudar outras pessoas, divulgando informações pertinentes sobre a travessia, seus riscos e possibilidades. Em suas declarações, eles reconhecem que estão agindo de forma inadequada perante a lei:
Primeiramente, e antes de tudo, eu quero dizer a vocês que eu não estou aqui para incentivar ninguém a vir. Não estou aqui para incentivar ninguém a fazer o que eu e minha família fizemos. Eu estou aqui simplesmente para contar a nossa história, a nossa experiência. Lembrando que cada caso é um caso. [...] Eu não estou incentivando ninguém. Até porque a partir do momento que a gente decide emigrar, a vir para cá pelo cai-cai, a gente está cometendo um crime. Todos nós sabemos, né? (MYT, Vlog Y)
Abundância de informações compartilhadas pelos MYT sobre o "cai-cai", abordando desde detalhes geográficos da rota até aspectos emocionais da jornada, ressoa com as descobertas de pesquisas anteriores (Dekker et al., 2018; Alencar, 2018) sobre a influência crucial das mídias sociais e da conectividade digital nas decisões migratórias e na formação de comunidades virtuais. Esses relatos destacam a importância da rede transnacional. Ao compartilhar tanto os obstáculos práticos quanto os desafios emocionais da migração, alinha-se à chamada para redefinir a migração em termos de mobilidade, considerando aspectos contínuos e não estáticos (Ponzanesi, 2019).
O alerta sobre a necessidade de segurar firmemente as mãos das crianças exibe as desigualdades na vivência da mobilidade (Sheller, 2018). A fronteira entre México e Estados Unidos é um espaço de múltiplas experiências de atravessamento e trânsitos, além de ser marcado por exclusão, violência e securitização. Nesse aspecto, Assis (2021) destaca que, ao cruzarem as fronteiras, as crianças migram involuntariamente; na maioria das vezes, não escolhem migrar e estão sujeitas a riscos e a vulnerabilidades maiores que os adultos. Segurar a mão da criança não garante que ela não se perca de seus pais ou dos acompanhantes, nem que não seja separada. De maneira geral, os vídeos examinados enriquecem a compreensão sobre o "migrante conectado" e o "migrante on-line". Por meio do conteúdo audiovisual, esses registros oferecem vislumbres esclarecedores das interconexões cruciais entre o fenômeno da migração e o espaço digital. Ao apresentarem exemplos vivos e detalhados, os vídeos não apenas ilustram, mas também personificam as complexas dinâmicas da migração e de suas desigualdades.
Este artigo explorou a conexão entre os campos on-line e off-line da migração irregular de brasileiros para os EUA, uma área de pesquisa pouco explorada. Ao interligar os temas migração, (i)mobilidade e conectividade, buscou-se traçar a conectividade entre os sujeitos móveis e imóveis, a fim de iluminar as dinâmicas dos migrantes indocu mentados e o papel da TIC na formação dos padrões transnacionais de mobilidade.
As narrativas demonstram que os MYT desempenham um papel de destaque na organização do projeto migra tório e na travessia, compartilhando histórias de sucesso. O YouTube cumpre uma função informativa, permitindo que futuros migrantes se conectem com outros brasileiros que já fizeram a travessia. Ele permite que esses sujei tos aprendam sobre o sistema de recepção e proteção. Ou ainda, reúnam outras informações relevantes sobre a viagem, como o procedimento que devem seguir ao chegar ao país, tornando-se, assim, transmissores de informações e expectativas entre outros jovens (Sourbati & Behrendt, 2021).
Os relatos compartilhados no YouTube validam informações das redes sociais pessoais. Os MYT que compartilham suas experiências de migração possuem uma presença digital focada nesse tema, pois criam uma sensação de especialização e expertise. Os vídeos, ao oferecerem uma apresentação mais abrangente e envolvente, estabelecem uma conexão emocional entre o narrador e o público, reforçando a confiança. Isso é acentuado pela transmissão direta de relatos em primeira mão das experiências de migração, contribuindo para aumentar a credibilidade entre os potenciais migrantes. A consistência entre os relatos nas redes sociais e nos vídeos reforça essa validação, fortalecendo a confiança nas informações.
Assim, no contexto das redes digitais, é possível enxergar uma extensão contemporânea do conceito de "capi tal cordial" (Fusco, 2005), que valoriza as relações interpessoais e a sociabilidade amigável na cultura brasileira. As redes digitais conferem uma nova forma de capital simbólico. Nesse cenário, a visibilidade, as conexões e os relacionamentos estabelecidos on-line assemelham-se ao valor atribuído às relações pessoais no conceito original. A capacidade de produzir e compartilhar conteúdo, juntamente com a reputação on-line, reflete os princípios do capital simbólico proposto por Bourdieu (1986). Portanto, as redes digitais emergem como um espaço contem porâneo em que o capital cordial encontra paralelos modernos, permitindo aos indivíduos construir identidades, reputações e redes de maneiras antes não imaginadas.
No entanto, ao lado desse fenômeno, os resultados também realçam a importância de investigar a conectivi dade pela lente da imobilidade. A pesquisa tradicionalmente se concentra na mobilidade; contudo, os exemplos aqui apresentados mostram que é vital reconhecer que a escolha de não migrar também é uma determinação complexa, com implicações substanciais. A conectividade emerge como um recurso enriquecedor para a tomada de decisão. Através da interconexão digital, aqueles que optam por não migrar podem acessar informações em tempo real sobre experiências de migração, avaliar riscos e benefícios de maneira mais informada, e trocar conhecimentos sobre oportunidades locais. Além disso, a conectividade oferece espaço para refletir sobre como a desigualdade digital pode perpetuar a imobilidade involuntária ao restringir o acesso a tais informações.
Esta pesquisa evidenciou que as dimensões da desigualdade digital e a diferenciação das redes sociais nas práticas dos usuários no contexto da migração indocumentada precisam receber mais atenção, maior diferencia ção e mais abordagens empíricas a fim de obter insights sobre as diferentes condições e práticas que formam as possibilidades e limitações decorrentes do uso das mídias sociais (Kutscher & Kreß, 2018). Portanto, a análise aprofundada da (i)mobilidade mediada pela conectividade digital enriquece substancialmente a compreensão das complexidades subjacentes às escolhas migratórias, evidenciando que a conectividade não apenas complementa, mas também aprimora a tomada de decisões no espectro migratório.
Este trabalho foi financiado pela Marie Curie Actions Global Fellowships sob a Referência 895195.
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37. Sheller, M. (2018). Theorising mobility justice. Tempo Social, 30, 17-34. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2018.142763
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38. Silva, A. (2019). Atravessando fronteiras: a dimensão vivida da desterritorialização de brasileiros em Por tugal e Estados Unidos da América. Caminhos de Geografia, 20(72), 386-401. https://doi.org/10.14393/RCG207246464
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40. Smets, K. (2019). Media and immobility. European Journal of Communication, 34(6), 650-660. https://doi.org/10.1177/0267323119886167
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41. Soares, W., Duarte, M. L., Aguirre, M. A. C., & Soares, I. M. (2023). Capital social y apoyo monetario en la migración irregular Brasil-Estados Unidos. Redes: Revista Hispana para el Análisis de Redes Sociales, 34(2), 166-186. https://doi.org/10.5565/rev/redes.975
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42. Sourbati, M., & Behrendt, F. (2021). Smart mobility, age and data justice. New Media & Society, 23(6), 1398 -1414. https://doi.org/10.1177/1461444820902682
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43. Uriarte, U. M. (2012). O que é fazer etnografia para os antropólogos. Ponto Urbe: revista do núcleo de antropo logia urbana da USP, (11). https://doi.org/10.4000/pontourbe.300
U. M Uriarte 2012O que é fazer etnografia para os antropólogosPonto Urbe: revista do núcleo de antropo logia urbana da USP11https://doi.org/10.4000/pontourbe.300
44. Zijlstra, J., & Van Liempt, I. (2017). Smart(phone) travelling: understanding the use and impact of mobile technology on irregular migration journeys. International Journal of Migration and Border Studies, 3(2-3), 174-191. https://doi.org/10.1504/IJMBS.2017.083245
J. Zijlstra I Van Liempt 2017Smart(phone) travelling: understanding the use and impact of mobile technology on irregular migration journeysInternational Journal of Migration and Border Studies32-3174191https://doi.org/10.1504/IJMBS.2017.083245
[1]Não há uma "definição rígida" do termo. É fruto de uma coleção de políticas, precedentes judiciais, ações executivas e estatutos federais que abrangem mais de 20 anos, remendados ao longo da administração democrata e da republicana. Ver Alden (2016).
[2] Silva, A. V., Araujo P., F. D., & Assis, G. d. O. (2025). Narrativas conectadas: explorando a migração brasileira indocumentada on-line e off-line. Anuario Electrónico de Estudios en Comunicación Social "Disertaciones", 18(1).https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/disertaciones/a.14137