Significados, experiências e repercussões do cyberbullying: o que dizem os adolescentes do Brasil e Angola

Meanings, Experiences, and Repercussions of Cyberbullying: What Brazilian and Angolan Adolescents Say

Significados, vivencias y repercusiones del ciberacoso: lo que dicen los adolescentes de Brasil y Angola

Sidclay B. Souza *
Universidad Católica del Maule, Chile

Contribution: concepção e desenho da investigação; coleta e análise dos dados que resultou na elaboração do presente artigo

Elaine Magalhães Costa-Fernandez
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil

Contribution: concepção e desenho da investigação; escrita do artigo

Etã Sobal Paranhos da Costa
Escola Camilo Castelo Branco, Brasil

Contribution: escrita e revisão do artigo

Margaréte Berkenbrock-Rosito
Universidade da Cidade São Paulo, Brasil

Contribution: escrita e revisão final do artigo

Maria da Conceição Lima
Universidade Federal de Pernambuco, Brasil

Contribution: revisão do artigo

Significados, experiências e repercussões do cyberbullying: o que dizem os adolescentes do Brasil e Angola

Avances en Psicología Latinoamericana, vol. 40, núm. 3, 2022

Universidad del Rosario

Recepção: 10 Dezembro 2021

Aprovação: 11 Outubro 2022

Informação adicional

Para citar este artigo: Souza, S. B., Costa-Fernandez, E. M., da Costa, E. S. P., Berkenbrock-Rosito, M., & Lima, M. C. (2022). Significados, experiências e repercussões do cyberbullying: o que dizem os adolescentes do Brasil e Angolas. Avances en Psicología Latinoamericana, 40(3), 1-20. https://doi.org/10.12804/revistas.urosario.edu.co/apl/a.11433

Resumo: O cyberbullying é um fenômeno presente em todo o mundo, com incalculáveis consequências para a vida dos envolvidos. Considerando que os estudos interculturais sobre o cyberbullying realizados com os países lusófonos se limitam a investigações que envolvem participantes do Brasil e Portugal, se evidencia a necessidade de ampliar o conhecimento e investigar as perspectivas de adolescentes em outros contextos. Deste modo, o presente estudo teve o objetivo de investigar os significados, experiências e repercussões do cyberbullying em um grupo de adolescentes do Brasil e de Angola. Um total de 50 adolescentes participaram do estudo, sendo 23 brasileiros e 27 angolanos, com idades entre 11 e 17 anos (M = 13.58 anos; DP = 1.56), majoritariamente do sexo feminino (Brasil = 52.2 %; Angola = 55.6 %), do 6º ao 12° ano de escolaridade. Para a coleta de dados utilizamos entrevistas individuais semiestruturadas e a análise de conteúdo através de uma abordagem mista (categorizações dedutiva e indutiva) foi realizada para analisar os dados. Os resultados revelaram que, embora se verifiquem divergências e similaridades no que diz respeito às três perspectivas estudadas, os adolescentes de ambos os contextos atribuem significados ao cyberbullying que remetem a uma perspectiva comportamental e de causalidade do fenômeno. Além disso, os brasileiros apresentaram porcentagens mais elevadas em termos de experiências. De modo adicional, os participantes de ambos os contextos consideraram que as consequências do cyberbullying são mais presentes na vida das vítimas (esfera escolar, social, psicológica-emocional e psiquiátrica). Os resultados são discutidos lançando luz sobre o caminho ainda por trilhar nesta temática atual e abrindo perspectivas para novas interrogações

Palavras-chave: cyberbullying, significado, experiências, repercussões, adolescentes.

Abstract: Cyberbullying is a phenomenon present across the globe, with incalculable consequences for the lives of those involved. Considering that intercultural cyberbullying studies conducted in Portuguese-speaking countries are limited to investigations involving participants from Brazil and Portugal, the need to expand this knowledge and investigate the perspectives of adolescents in other contexts is evident. Thus, the present study aimed to investigate the meanings, experiences, and repercussions of cyberbullying in a group of adolescents from Brazil and Angola. A total of 50 adolescents participated in the study, 23 Brazilians and 27 Angolans, aged 11 to 17 years (M = 13.58 years; SD = 1.56), mostly female (Brazil = 52.2 %; Angola = 55.6 %), from the sixth to the twelfth grade. For data collection, we used semistructured individual interviews and content analysis through a mixed approach (deductive and inductive categorizations) was performed to analyze the data. Results revealed that, although there are divergences and similarities regarding the perspectives studied, adolescents from both contexts attribute meanings to cyberbullying that refer to behavioral and causal perspectives of the phenomenon. Moreover, Brazilians presented higher percentages in terms of experiences. Additionally, participants from both contexts considered that the consequences of cyberbullying are more present in the lives of the victims (school, social, psychological-emotional, and psychiatric spheres). Results are discussed, shedding light on the path still to be traveled regarding this current topic and opening perspectives for new questions.

Keywords: Cyberbullying, meaning, experiences, repercussions, adolescents.

Resumen: El ciberacoso es un fenómeno presente en todo el mundo, con consecuencias incalculables para la vida de los implicados. Teniendo en cuenta que los estudios interculturales sobre el ciberacoso realizados con países hablantes de la lengua portuguesa se limitan a investigaciones con participantes de Brasil y Portugal, es necesario ampliar el conocimiento e investigar las perspectivas de los adolescentes en otros contextos. Por lo tanto, el presente estudio tuvo como objetivo investigar los significados, experiencias y repercusiones del ciberacoso en un grupo de adolescentes de Brasil y Angola. Participaron 50 adolescentes, 23 brasileños y 27 angoleños, con edades comprendidas entre los 11 y los 17 años (M = 13.58 años; DT = 1.56), mayoritariamente de género femenino (Brasil = 52.2 %; Angola = 55.6 %), del 6º al 12º año de escolaridad. Para la recogida de datos se utilizaron entrevistas individuales semiestructuradas y el análisis de contenido mediante un enfoque mixto (categorizaciones deductivas e inductivas), llevado a cabo para analizar los datos. Los resultados revelaron que, aunque existen divergencias y similitudes en relación con las tres perspectivas estudiadas, los adolescentes de ambos contextos atribuyen al ciberacoso significados que hacen referencia a una perspectiva conductual y a la causalidad del fenómeno. Además, los brasileños presentaron porcentajes más altos en cuanto a experiencias. Así mismo, los participantes de ambos contextos consideraron que las consecuencias del ciberacoso están más presentes en la vida de las víctimas (ámbito escolar, social, psicológico-emocional y psiquiátrico). Los hallazgos se discuten arrojando luz sobre el camino que queda por recorrer en este tema actual y abriendo perspectivas a nuevos interrogantes.

Palabras clave: ciberacoso, significado, experiencias, repercusiones, adolescentes.

Na conjuntura atual das interações sociais humanas, o número de adolescentes que cresceu com dispositivos digitais conectados à Internet aumentou significativamente (Cabello-Hutt et al., 2018). Em muitos contextos culturais, a utilização dos recursos tecnológicos e da Internet faz parte da vida dos adolescentes, chegando a ser o principal meio de socialização cotidiana de toda uma geração (Kowalski et al., 2014). Apesar das diversas oportunidades online, as tecnologias e a Internet trazem em seu bojo uma série de riscos ao desenvolvimento psicossocial (Cabello-Hutt et al., 2018), tais como o desencadeamento de distúrbios afetivos, ansiedade, problemas aditivos, depressão, ideação suicida, bem como o envolvimento em situações de cyberbullying (e.g., Nixon, 2014). Esta nova prática de interação sociocultural tornou-se uma preocupação permanente para profissionais e pesquisadores em Psicologia, Educação e áreas afins, engajados em propor métodos de prevenção e de cuidado aos usuários (e.g., Alonso & Romero, 2021; Kowalski et al., 2014).

O cyberbullyingcaracteriza-se como um dos preocupantes problemas decorrentes do uso e abuso da Internet. Embora exista uma certa contradição na literatura sobre o conceito do fenômeno devido às suas semelhanças com o bullying face a face (e.g., Olweus & Limber, 2018; Zych et al., 2015), trata-se de uma forma de agressão entre pares no contexto virtual, realizada por um indivíduo ou grupo, com o objetivo de prejudicar intencionalmente as víti- mas, que não são capazes de se defenderem (Smith et al., 2008; Zych et al., 2015).

Como uma forma de bullying indireto (Dredge et al., 2014; Herrera-López et al., 2017; Smith et al., 2008), o cyberbullying envolve comportamentos hostis, por meio da difusão de informações eletrônicas difamatórias via e-mails, envio de mensagens e/ou publicação de imagens humilhantes em sites e redes sociais, sem as devidas autorizações, entre outros (Dennehy et al., 2020; Olweus & Limber, 2018; Smith et al., 2008; Veiga Simão et al., 2018). É neste contexto, que a particularidade do cyberbullying reside, no fato do fenômeno assumir diferentes configurações/formas, ocorrer através de distintos locais (por exemplo: casa, escola, rua), bem como na possibilidade do agressor poder recorrer a dispositivos distintos, tais como mensagens instantâneas, aplicações, mídias sociais, fóruns e plataformas de jogos, conforme pontuam Kowalski et al. (2014). Isso por um lado, favorece o anonimato dos agressores e, por outro, aumenta em grande escala a exposição da intimidade da vítima (Vismara et al., 2022). Assim, alguns autores (e.g., Dooley et al., 2009; Kowalski et al., 2014; Kubiszewski et al., 2015) planteam que as carac- terísticas centrais do cyberbullying centram-se: (a) na incessante situação de bullying; (b) no grau de anonimato por parte do agressor que não ocorre no bullying face a face e; (c) na exposição e constrangimento da vítima em maior escala uma vez que o ato agressivo/humilhante, pode atingir uma audiência mais ampla ao ser compartilhada online. Na dinâmica relacional do cyberbullying, a literatura aponta para a existência de três diferentes tipos de participação. Especificamente, de acordo com Livazović e Ham (2019), as vítimas são alvo da exposição dos conteúdos prejudiciais em um ambiente online, ao passo que os agressores são os autores da agressão e/ou assédio contra outra pessoa, neste mesmo contexto (Kowalski et al., 2014). Por sua vez, os observadores têm outro tipo de envolvimento no cyberbullying, podendo assumir um papel passivo por não intervir nas situações, um papel ativo, ao participar da vitimização e divulgar ainda mais os comportamentos online, ou interventivo, para impedir ou parar um episódio de cyberbullying e oferecer apoio ou não à vítima, como apontado por Ferreira et al. (2016) e Pabian et al. (2016).

No marco desta dinâmica relacional, também se verifica uma dinâmica relacional cíclica de sobreposição de papéis em que, tanto vítimas como observadores apresentam uma tendência à agressão e vice-versa (Ferreira et al., 2016; Konig et al., 2010; Kubiszewski et al., 2015; Lozano-Blasco et al., 2020; Souza et al., 2018). Em muitos casos, a sobreposição de papéis pode ocorrer como uma conduta reativa e de retaliação por parte das vítimas e observadores (Dooley et al., 2009; Estévez et al., 2020), a qual é favorecida pelas características do mundo cibernético que facilitam a participação no fenômeno e aumentam a possibilidade de limites difusos. Embora a literatura sobre a incidência do cyberbullying seja pouco consistente, tal como também se verifica nos estudos do bullying presencial (Cuervo et al., 2014; Olweus & Limber, 2018), a literatura internacional aponta que em média, 25% a 35 % dos alunos relatam terem sido vítimas de cyberbullying e até 44 % haver sido autor de algum dos comportamentos qualificados de cyberbullying (Brochado et al., 2017; Hinduja & Patchin, 2010). Acerca desse aspecto, um relatório sobre “Violência e Bullying Escolar” (United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization [UNESCO], 2018) descreveu a situação no mundo todo e indicou que, embora a prevalência do cyberbullying seja baixa em comparação com outras formas de violência e bullying escolar, o cyberbullying é um problema que tem aumentado em termos de incidência. Estimase que, entre 20% e 40% dos adolescentes já tenham sofrido, ao menos, uma experiência relacionada com “perseguições ou assédio virtuais” (UNESCO, 2018, 2020). Tal constatação permite inferir que o cyberbullying apresenta-se como um dos graves riscos sociais presente na vida na vida dos adolescentes de todo o mundo.

Pesquisas realizadas em diferentes contextos revelam que o cyberbullying produz consequências nocivas e severas, cujas implicações se fazem presente nas diversas esferas da vida (e.g., Hinduja & Patchin, 2010; Pingault & Schoeler, 2017). Ou seja, o cyberbullying impacta negativamente a vida dos envolvidos e produz sentimentos como tristeza, rejeição e raiva (Gualdo et al., 2015; Larrañaga et al., 2016), problemas de adaptação escolar, baixa autoestima, falta de controle emocional, altos níveis de estresse, depressão, abuso de substâncias, ansiedade social, ideação e comportamento suicida (Halpern et al., 2017; Hinduja & Patchin, 2010; Zych et al., 2015).

Por sua vez, a literatura também destaca um impacto negativo sobre os agressores, estando este tipo de conduta positivamente relacionada com a baixa autoestima, sofrimento psicológico, uso de álcool, depressão e suicídio (Chang et al., 2019; Cowie, 2013; Pingault & Schoeler, 2017; Weber & Pelfrey, 2014). Além disto, no estudo de Pabian et al. (2016) se constata que a exposição ao cyberbullying como observador pode levar a níveis mais baixos de resposta empática para com os outros ao longo do tempo. Ainda em termos das consequências, a revisão sistemática conduzida por Estévez et al. (2020) revela que os envolvidos em um duplo papel podem apresentar maiores problemas de ajuste psicológico por experimentarem os efeitos negativos de ambos os papéis.

Em síntese, as experiências de cyberbullying apresentam consequências diretas nas dimensões cognitiva, social e afetiva dos envolvidos (Chang et al., 2019; Cowie, 2013; Pingault & Schoeler, 2017; Weber & Pelfrey, 2014). Todavia, Gualdo et al. (2015) destacam que a apreensão dos efeitos do cyberbullying por parte de adolescentes, em função dos diferentes papéis ainda é pouco explorada. O que revela uma lacuna investigativa a ser trabalhada, sobretudo, a partir de uma perspectiva intercultural. Entre os avanços nas investigações sobre o cyberbullying, os estudos interculturais focados nas implicações entre os aspectos culturais, nas in- terações sociais estabelecidas e as experiências individuais de cada sujeito trazem importantes contribuições à compreensão do cyberbullying, visto que em cada contexto cultural o fenômeno apresenta formas de manifestação que divergem em termos de frequência (Baek & Bullock, 2014; Brochado et al., 2017; Souza et al., 2018). Um exemplo seria o estudo de Costa-Fernandez e Souza (2019), no qual se verifica que o cyberbullying ameaça à saúde e integridade psicológica dos envolvidos, provocando danos emocionais de difícil reversão, independente dos pertencimentos culturais dos adolescentes. Em consonância com o anterior, a investigação conduzida por Souza et al. (2016) com 1.340 participantes (44.18 % eram estudantes brasileiros e 55.8 % portugueses), verificou que 44.6 % dos estudantes brasileiros e 43.04 % dos portugueses declaram já terem sido vítimas de cyberbullying ao menos uma vez em sua vida. Adicionalmente, as vítimas do Brasil afirmam ser alvo de ameaça e de assédio de caráter sexual mais frequentemente que as vítimas de Portugal, reverberando nas vítimas brasileiras, sentimentos como culpa, preocupação, raiva, desejo de vingança, entre outros (Souza et al., 2016). Outro dado relevante é que a maior parte das investigações sobre o cyberbullying em países de língua portuguesa se limitam ao Brasil e Portugal, relevando a ausência de estudos em outras antigas colônias portuguesas como Angola, por exemplo. Esta é uma outra lacuna a ser suprida do ponto de vista investigativo (Costa-Fernandez & Souza, 2018).

Nesse sentido, a presente investigação teve o objetivo de compreender os significados atribuídos ao cyberbullying por adolescentes do Brasil e Angola; identificar as possíveis experiências de cyberbullying destes atores como vítimas, agressores e observadores e, por outro lado, compreender as consequências atribuídas pelos mesmos, considerando os diferentes tipos de envolvimento.

Método

Participantes

O presente estudo contou com a participação voluntária de 50 adolescentes do Brasil e Angola. Os participantes do Brasil (n = 23), eram provenientes da cidade do Recife, ao passo que os da Angola (n = 27), eram procedentes da cidade de Luanda. Em ambos contextos investigados, os sujeitos eram estudantes de escolas privadas de classe média e média-alta, com idades entre 11 e 17 anos (M = 13.58 anos; DP = 1.56), de ambos os sexos e do 6º ao 12° ano de escolaridade. A caracterização dos participantes por país é apresentada na Tabela 1.

Instrumento

Um roteiro de entrevista individual semiestruturada foi desenvolvido tendo como ponto de partida os aspectos referenciados pela literatura sobre o cyberbullying e centrado nos objetivos da investigação. Em sua construção, adotamos uma estrutura constituída por blocos temáticos (introdutório, transitório, fundamentais e síntese), tal como sugerido por Amado e Vieira (2014).

O respectivo roteiro esteve composto por questionamentos que visavam compreender aspectos como: (a) o conhecimento sobre o cyberbullying (exemplo: “Alguma vez já ouviste falar sobre o cyberbullying?”); (b) o significado atribuído (exemplo: “O que é para ti o cyberbullying?”); (c) as experiências e vivências de cyberbullying por parte dos adolescentes, independente do papel exercido (exemplo: “Alguma vez já vivenciaste alguma situação de cyberbullying?”; “Se sim, poderias dizer o que aconteceu?”) e, (d) as con- sequências do cyberbullying para si mesmo e para os outros (exemplo: “Quais as consequências que o cyberbullying tem na vida dos envolvidos?”). Para minimizar a variabilidade linguística nas perguntas, durante a elaboração do roteiro de entrevista, os investigadores do Brasil e Angola entraram em consenso na adoção de palavras que fossem compreensíveis em ambos os contextos.

Tabela 1
Caracterização dos participantes por país
Caracterização dos participantes por país

Nota. Os valores apresentados nesta tabela são porcentuais.

Procedimento

Após a obtenção do parecer favorável por parte do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) (CAEE: 87860418.9.0000.5208), os pesquisadores entraramem contato com as escolas de ambos os contextos com o objetivo de solicitar a autorização prévia por parte dos pais e/ou responsável legal dos participantes (menores de 18 anos) através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Para a gestão e realização das entrevistas, contamos com o apoio das psicólogas das escolas em que ocorreu a pesquisa. Durante o agendamento, o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE) foi entregue aos participantes, sendo-lhes indicado a importância de entregar o respectivo documento antes de iniciar a entrevista. Este procedimento garantiu a participação exclusiva dos alunos que apresentaram os termos obrigatórios devidamente preenchidos e assinados, assegurando as exigências éticas. Se destaca, de modo adicional, que tanto os pais como os participantes assinaram de forma livre e voluntária os respectivos documentos (TCLE e TALE).

De modo a assegurar o rigor durante o procedimento adotado na coleta dos dados e, desta forma, minimizar possível variabilidade, as entrevistas foram conduzidas por dois investigadores nativos e integrantes da equipe de investigação (ambos psicólogos educacionais), com conhecimento e experiência no procedimento adotado e na temática investigada. Durante as entrevistas, os pesquisadores buscaram respeitar a estrutura do roteiro utilizado e assegurar a realização de todas as perguntas do roteiro. As entrevistas foram gravadas em áudio com o objetivo de garantir, por um lado, a credibilidade descritiva e, por outro, “a fidelidade do que se ouviu” (Amado & Vieira, 2014, p. 361). Tanto no Brasil como na Angola, todas as entrevistas ocorreram em um local reservado nas instalações das escolas, com o objetivo de resguardar a confidencialidade das informações fornecidas pelos participantes e tiveram uma duração aproximada de 35 minutos.

Análise dos dados

Para analisar os dados obtidos por meio das entrevistas, foi utilizada a análise de conteúdo seguindo os critérios de categorização semântica (categorias temáticas), baseada nas regras fundamentais da técnica de análise explicitadas por Bardin (2009): exclusão mútua, homogeneidade, pertinência, objetividade, fidelidade e produtividade. Para tal, uma abordagem mista (categorizações dedutiva e indutiva) foi adotada e consistiu na inferência de categorias, indicadores e unidades de registo, como ainda na contagem da frequência das respostas obtidas (Bardin, 2009). As unidades de registro estabelecidas eram proposições com sentido e o seu processo de codificação teve como base a atual literatura sobre o tema. Este procedimento permitiu transformar informações qualitativas em informações quantitativas, como categorias e frequências (Amado & Vieira, 2014).

Em última instância, dois juízes independentes avaliaram os dados referentes às expressões dos adolescentes e sua forma de categorização, buscando garantir a confiabilidade do processo de análise (Amado & Vieira, 2014). Avaliou-se o nível de concordância entre juízes através do software estatístico IBMSPSS 24.0. O resultado revelou uma concordância entre juízes de 93 % (Intraclass Correlation, ICC = .93), indicando uma excelente confiabilidade (Koo & Li, 2016).

Resultados

Perspectiva sobre o cyberbullying

As análises realizadas em ambos os países revelam que uma porcentagem substancial de participantes do Brasil (91.3 %) e de Angola (88.9 %) já ouviu falar de cyberbullying, principalmente na escola. Questionados sobre o significado atribuído ao fenômeno, foram identificadas duas categorias a partir das respostas obtidas. A primeira delas apresenta o caráter comportamental do fenômeno, enquanto a segunda, apresenta o caráter de causalidade do cyberbullying (Tabela 2).

Tabela 2
Significados atribuídos pelos adolescentes sobre o cyberbullying
Significados atribuídos pelos adolescentes sobre o cyberbullying

Nota. O f corresponde ao número de participantes que referiu cada um dos indicadores. A porcentagem é calculada tendo por referência o total dos participantes de cada País (Brasil = 23; Angola = 27).

Na categoria comportamental, foram identificados 8 indicadores, sendo o mais frequente em ambos os contextos, o que se refere ao cyberbullying como o bullying na Internet “Seria basicamente uma vertente do bullying, mas, no caso, ao invés de ser praticado na vida real (de modo presencial), é através da tecnologia.” (BR20, 15 anos, Fem.); “O cyberbullying é quando mais velhos, ou mais novos, adolescentes, aproveitam-se da Internet para fazer bullying com os outros. Eu acho que é isso” (AN5, 16 anos, Masc.). Em seguida encontra-se a percepção do cyberbullyingcomo um comportamento violento que envolve insultos, ofensas e ameaças “Cyberbullying pra mim é você postar na Internet coisas de uma pessoa xingando ela e dizendo coisas que acabam ofendendo, sabe?” (BR6, 13 anos, Masc.); “Cyberbullyingé quando, por exemplo, no Facebook uma pessoa ofende a outra com comentários e dizem “ah, tás horrível, tás feio, não sabes tirar uma foto”. Eu acho que isso é cyberbullying, abusar com a pessoa.” (AN18, 14 anos, Masc.).

Outros indicadores da categoria comportamental referem-se ao cyberbullying como calúnias “[...] contar mentiras sobre a pessoa, inventar coisas sobre a pessoa e publicar na Internet para todo mundo ver” (BR7, 13 anos, Fem.); “[...] as pessoas estarem a dizer coisas que não são reais das ou- tras pessoas também e isso geralmente isso afeta as pessoas” (AN6, 14 anos, Fem.). Trata-se, portanto, para os adolescentes, de uma conduta de maltrato e de exposição da vítima, sem seu consentimento “[...] maltratar também online e expor a pessoa. Por exemplo, pode ser também no caso de sexo e tal, aí eles vão, postam, começam a zoar dela e aí a escola toda sabe, pra mim é isso, mais ou menos, o cyberbullying” (BR12, 13 anos, Masc.); “Eu acho que é a prática de, por exemplo, os maus tratos, através do meio de comunicação que é a Internet” (AN24, 15 anos, Masc.), um comportamento de covardia “Ah, pra mim também o cyberbullying é quando uma pessoa não fala pra outra que é a mesma porque não tem coragem de dizer. Além de tá fazendo esse ato covarde de xingar outra pessoa, ainda tá sendo mais covarde ainda por não falar quem é” (BR18, 12 anos, Fem.); “Eu acho que isso é um bocado de covardia da pessoa, que é usar o cyberbullying para afetar” (AN2, 13 anos, Masc.). O cyberbullying aparece também associado à intolerância e ao preconceito “Pra mim é quando uma pessoa critica outra pessoa, principalmente, a sua orientação sexual. Aí a pessoa fala que é gay, lésbica, enfim. Pessoas que não têm nada a ver com a vida da outra e vão querer indagar, dar pitacos” (BR4, 19 anos, Masc.); “É quando as pessoas cometem atos de discriminação pela Internet” (AN13, 13 años, Masc.).

Destacamos ainda que, para os participantes de Angola, o cyberbullying é apresentado como um comportamento intencional, provocador “[...] com o intuito de rebaixar a pessoa” (AN22, 12 anos, Masc.), pautado numa relação desigual de poder, em que “[...] as pessoas que fazem (praticam) o cyberbullying são pessoas que usam sua força, popularidade e sua brutalidade para com os colegas” (AN25, 13 anos, Masc.).

A categoria causalidade refere-se aos motivos atribuídos ao assédio pelos participantes, existindo divergência entre os motivos que são atribuídos pe- los participantes de cada país. Os participantes do Brasil referem a necessidade de reconhecimento e autoafirmação, por parte do agressor “Cyberbullying é um comportamento que não deveria existir, né? Acho que é algo de adolescente querendo ser engraçado, querendo atenção e que acaba fazendo isso, né, esse tipo de má conduta” (BR10, 16 anos, Masc.); desejo de vingança “Muitos casos, também, de pessoas que passaram por aquilo e aí querem devolver a agressão e decidem usar a Internet pra fazer isso” (BR14, 14 anos, Fem.). Eles reportam também a falta de caráter do agressor “Pra mim, acho que são pessoas que tem medo de falar pessoalmente. Para mim, isso é falta de caráter” (BR14, 14 anos, Fem.). Já os participantes de Angola atribuem a causalidade do assédio virtual à falta de sentido da vida, o que acaba por resultar em comportamentos de cyberbullying“Acho que são pessoas que não tem, que não sabem o sentido da vida e querem descarregar em outras pessoas. E para mim isso está errado, né? E não está certo porque elas estão a estragar, tão a perturbar as outras pessoas, o que não deveriam fazer” (AN14, 11 anos, Fem.).

Experiências e repercussões do cyberbullying

No que diz respeito às situações vivenciadas distintamente pelas vítimas, pelos agressores, ou pelos observadores, os participantes do Brasil apresentaram porcentagens mais elevadas que os de Angola nos três tipos de envolvimento (Figura 1).

Frequência relativa de envolvimento por país
Figura 1
Frequência relativa de envolvimento por país


No que concerne às repercussões atribuídas pelos adolescentes do Brasil e de Angola ao cyberbullying, foram identificadas três categorias: consequências na vida das vítimas, consequências na vida dos agressores e consequências na vida dos observadores. Estes resultados são apresentados na Tabela 3.

Tabela 3
Consequências do cyberbullying atribuídas pelos adolescentes
Consequências do cyberbullying atribuídas pelos adolescentes


A categoria que reúne as consequências na vida das vítimas é composta por quatro subcategorias e se referem ao âmbito escolar, social, psicológico-emocional e psiquiátrico. Na subcategoria domínio escolar, o indicador baixo rendimento foi relatado apenas pelos participantes da Angola, “Eu acho que é muito prejudicial, porque quando uma pessoa passa por situações humilhantes como essa, abaixa a nota” (AN17, 12 anos, Fem.). Na subcategoria social, quatro indicadores foram identificados, sendo o isolamento social o mais citado pelos participantes de ambos os países “Deixar as pessoas mais recuadas, ficam com medo de interagir perante a sociedade, elas ficam mais restritas com relação às redes sociais” (BR4, 19 anos, Masc.); “Acho que podem se sentir isoladas ou até mesmo podem tentar se esconder das outras e pode querer ficar mais escondida” (AN22, 12 anos, Masc.). Já na subcategoria psicológico-emocional, os indicadores mais reportados foram a falta de autoestima “você pode pensar: nossa, será que eu sou isso mesmo? E começar a se auto menosprezar, ter problemas com a sua autoestima [...]” (BR22, 13 anos, Fem.); “As vítimas não se sentem muito seguras e acabam por ficar com problemas na autoestima” (AN16, 12 anos, Fem.); e a instabilidade emocional “[...] eu acho que mexe muito com o seu psicológico e com o seu emocional, porque fere exatamente naquele ponto que é mais sensível de você. Então realmente você fica magoado, muito pensativo” (BR8, 17 anos, Masc.); “Sei lá, algum distúrbio psicológico por afetar muito o emocional da pes- soa” (AN14, 11 anos, Fem.).

Em última instância, na subcategoria psiquiátrica, a depressão “A que sofre (vítima) acho que pode entrar em depressão e muitas vezes a pessoa entra em estado de depressão por não falar do problema a ninguém” (BR6, 13 anos, Masc.); “Acho que o cyberbullying pode causar depressão” (AN25, 13 anos, Masc.); e o suicídio “Tem vários impactos, eu acho. Várias consequências também. Tipo, a vítima pode se chatear e fazer várias besteiras. Como tirar a vida, tirar a própria vida” (BR10, 16 anos, Masc.); “Muita gente já chegou a suicidar-se por terem sofrido cyberbullying” (AN20, 12 anos, Masc.) foram os indicadores que apresentaram maior frequência em ambos os contextos.

A categoria consequências na vida dos agressores é composta por duas subcategorias. A primeira aparece relacionada com as consequências sociais, e outra com as consequências psicológico-emocionais. A consequência social mais citada pelos participantes foi a penalização legal “A pessoa pode ser presa. Então eu acho que deveria pegar uma pena [...] não tem pra que tá postando merda na Internet das pessoas” (BR7, 13 anos, Fem.); “Bom as consequências pra eles só dependem da vítima, se a vítima denunciou o agressor, ela pode levar consequências legais” (AN14, 11 anos, Fem.). Já nas psicológico-emocionais, a culpa e arrependimento foram os indicadores citados com maior frequência, “Talvez algum tipo de remorso e caso seja denunciado, talvez ele pare pra ver que ele fez algo de errado” (BR20, 15 anos, Fem.); “Eles sentem uma culpa e vão sentir tudo a volta deles, a dizer, a dizer não! A culpá-los pelos que eles fizeram, a consciência fica muito pesada” (AN8, 13 anos, Fem.). Ademais, uma quantidade considerável de ambos os contextos reportaram não haver consequências aos agressores.

Quanto às repercussões das situações de cyberbullying na vida dos observadores, foram identificadas duas subcategorias sendo uma social e outra psicológico-emocional. No que se refere às consequências sociais, os participantes destacaram a possibilidade da sobreposição de papéis, já que estes podem vir a tornarem-se vítimas e/ou agressores “Podem receber cyberbullying” (BR5, 13 anos, Masc.); “Uma das consequências que pode acontecer é a pessoa que observa incentivar fazer a mesma coisa com medo de ser vítima” (AN24, 15 anos, Masc.).

Discussão

Este estudo buscou compreender o significado atribuído por adolescentes lusófonos do Brasil e Angola referente ao cyberbullying, suas experiências relacionadas com o fenômeno, bem como as repercussões do cyberbullying na vida das vítimas, dos agressores e dos observadores em contextos culturais distintos. Além de contribuir para a construção de um saber descritivo sobre o fenômeno, os resultados obtidos permitem discriminar categorias em função do pertencimento cultural dos participantes, todos lusófonos.

Os resultados revelaram que 91.3 % dos participantes do Brasil e 88.9 % dos participantes de Angola afirmam ter ouvido falar de cyberbullying, principalmente na escola. Estes resultados confirmam a relação estreita estabelecida pelos participantes entre suas experiências de cyberbullying e o contexto escolar, reforçando o importante papel da escola no âmbito da prevenção e das intervenções de enfrentamento diante das consequências do fenômeno. Os resultados corroboram a investigação conduzida por Vandebosch et al. (2014) com um total de 309 escolas, em que 92 % dos seus gestores, independente do contexto cultural, consideram ser dever da escola informar aos alunos sobre o cyberbullying e promover ações preventivas direcionadas aos alunos.

No que diz respeito à concepção do cyberbullyinge dos seus efeitos, as similitudes superam as diferenças entre os dois grupos avaliados. Esta relativa semelhança das respostas dadas pelos participantes do Brasil e de Angola permite inferir que, independentemente do contexto cultural, os adolescentes constroem um significado do cyberbullying que se aproxima da atual literatura (e.g., Ranney et al., 2019), chegando a um tipo de consenso, sobretudo, quando se trata da dimensão comportamental, a mais frequente. Pode-se verificar então, que os adolescentes de ambos os contextos estudados concebem o cyberbullying como um tipo de bullying na Internet, de assédio virtual, que envolve insultos, ofensas e ameaças, sendo um comportamento de intolerância e preconceito, de maltrato e exposição da vítima e ainda de calúnias. Há de se destacar que, especificamente os participantes de Luanda, em Angola, reportaram a intencionalidade que existe neste tipo de comportamento, como a dimensão da desigualdade de poder entre pares. O que não ocorreu entre os estudantes de Recife, no Brasil. A justificativa para este resultado é que tal fato pode estar associado com o nível de violência e de distribuição de renda em cada um dos contextos. Todavia, maiores investigações são necessárias.

Segundo o estudo de Ranney e colaboradores (2019), uma das principais repercussões do cyberbullying para os adolescentes está associada aos graves problemas de saúde mental. Esta associação entre assédio virtual e sofrimento psíquico faz com que os mesmos acabem por priorizar uma dimensão que remete ao aspecto de causalidade na construção do significado.

De modo específico, os participantes dos dois contextos culturais investigados privilegiam a dimensão da causalidade ao descreverem o fenômeno de cyberbullying, mesmo que a frequência seja relativamente baixa. Entre os participantes do Recife, no Brasil, se evidenciou uma atribuição de causalidade relacionada à necessidade de reconhecimento por parte do agressor, o desejo de vingança e a falta de caráter. Já entre os alunos de Angola, foi citado prioritariamente a falta de sentido de vida. Esta distinção conflui com a ideia de Nunes e Branco (2007) ao mencionarem que os problemas morais, neste caso, o cyberbullying, podem ter diferentes modos de percepções que variam em função do contexto.

De forma adicional, os resultados que verificamos neste estudo vão ao encontro de outras investigações em que a maioria dos adolescentes parece igualar o cyberbullying ao “bullying via Internet”, ou que mencionaram comportamentos na Internet que consideravam exemplos de cyberbullying (Souza et al., 2014). Concomitantemente, foi possível evidenciar que a atribuição de causa- lidade por parte dos alunos de ambos os contextos culturais é algo que está implícito nas situações de cyberbullying, uma vez que a dimensão de julgamento moral (necessidade de reconhecimento por parte do agressor, o desejo de vingança e falta de caráter) e ético (falta de sentido de vida) estão presentes na perspectiva das vítimas de cyberbullying. Tais evidências sugerem que, para os participantes do estudo, as condutas de cyberbullying são expressões de intolerância que revelam um possível déficit moral, por parte dos que praticam as agressões (Tognetta et al., 2017). De modo adicional, estes resultados corroboram com a relevante investigação de Francisco et al. (2022) sobre as crenças pessoais e normativas re- lativas ao cyberbullying. Os resultados revelam, neste sentido, que todos os tipos de envolvimento, com exceção dos observadores das vítimas e dos estudantes não envolvidos no cyberbullying, con- sideraram o cyberbullying menos severo e menos injusto (Francisco et al., 2022).

Esta relação direta entre a prática do assédio virtual e a ausência de valores éticos acaba por acentuar a especificidade desta forma de bullying, onde a não presença do agressor propicia uma violência anônima, não assumida, pela qual o perpetrador se esconde por trás do instrumento virtual utilizado (Souza et al., 2014). Estas circunstâncias dispensam a repetição ativa por parte dos agressores (Tognetta et al., 2017). Com isso, as experiências de cyberbullying vivenciadas pelos adolescentes deixam sequelas que podem perdurar ao longo da vida.

No que diz respeito às experiências de cyberbullying, os resultados indicam que os alunos do Recife, no Brasil apresentaram porcentagens mais elevadas que os alunos de Luanda, em Angola, nos três tipos de envolvimento. Apesar da relevância do pertencimento cultural dos atores deste estudo (Souza et al., 2018) na definição das três perspectivas do cyberbullying selecionadas neste estudo (significado, experiência e repercussões), os resultados confluem com a literatura, uma vez que se trata de um problema que afeta pessoas em todo mundo (Baek & Bullock, 2014; Souza et al., 2018). Adicionalmente, é importante destacar que a incidência verificada nos dois países, considerando os três tipos de envolvimento (vitimização, agressão e observação), vai ao encontro do estudo de revisão sistemática realizado por Jenaro et al. (2018), cujos resultados revelam que a porcentagem das vítimas variou de 2.38 % a 90.86 %; a de agressores de 0.56 % a 54.3 % e as porcentagens observadores de 36.2 % a 68.8 %. Embora estes resultados estejam dentro do que se estima na literatura em termos de incidência, consideramos relevante a existência de ações e políticas psicoeducativas que permitam aos adolescentes aprender a conviver com o outro enquanto alteridade, mesmo se tratando de uma convivência que se circunscreve no contexto virtual (Ortega-Ruiz et al., 2014). Os resultados deste estudo ainda revelam que, segundo os participantes, as repercussões do cyberbullying são atribuídas tanto às vítimas quanto aos agressores e aos observadores. Entretanto, os participantes de ambos os contextos atribuem maiores consequências às vítimas, presentes nas esferas escolar, social, psicológico-emocional, como ainda psiquiátricas. O que conflui com o que se verifica na literatura e relatórios internacionais (Halpern et al., 2017; Pingault & Schoeler, 2017; UNESCO, 2018; Zych et al., 2015).

Quanto às consequências na vida dos agressores, as repercussões mais citadas pelos participantes do Brasil e Angola se referem ao domínio social. Trata-se da penalização legal dos mesmos, bem como a sobreposição de papéis (agressão-vitimização) e o isolamento. No que diz respeito as consequências atribuídas aos observadores, foram citadas repercussões na esfera social (a sobreposição de papéis: observação-vitimização/agressão), assim como psicológico-emocional (o medo e o sentimento de impotência e culpa).

Estes resultados contribuem para a compreensão das consequências do cyberbullying segundo os próprios adolescentes e reforça a evidência de estudos prévios ao destacar que se trata de um fenômeno que afeta os envolvidos de diferentes formas (Vandebosch et al., 2014; Weber & Pelfrey, 2014). Como se sabe, o impacto do cyberbullying varia em função do tipo de conduta, da intensidade com que cada pessoa vivencia estas situações, devendo ainda ser levado em consideração o contexto sociocultural dos envolvidos (Costa-Fernandez & Souza, 2018; Pingault & Schoeler, 2017; Souza et al., 2018). De modo adicional, os resultados deste estudo apontam que, as consequências do cyberbullying atribuídas pelos participantes, inde- pendente das divergências verificadas devido ao contexto cultural, estão diretamente relacionadas aos diversos domínios da vida dos envolvidos. O que vai ao encontro do que é reportado pela literatura internacional (e.g., Chang et al., 2019; Cowie, 2013; Pingault & Schoeler, 2017; Weber & Pelfrey, 2014). Ou seja, o nosso estudo ratifica outras pesquisas que já apontam que estas consequências se concretizam em problemas de rendimento e adaptação escolar, dificuldade de controle emocional, ansiedade social, depressão, abuso de substâncias, ideação e comportamento suicida (e.g., Halpern et al., 2017; Hinduja & Patchin, 2010; Zych et al., 2015).

Além do exposto, tal como foi possível verificar, um dado relevante a ser considerado é que parte dos participantes consideram a “ausência de consequências” para os agressores e observadores. De modo específico, 30.43 % dos participantes do Brasil e 18.52 % dos participantes de Angola negaram existir qualquer tipo de consequência na vida dos agressores. Nesta mesma perspectiva e com uma porcentagem inferior, (21.74 % do Brasil e 22.22 % de Angola) que consideraram não existir consequências para este tipo de comportamento (agressão). Estes resultados estão parcialmente em consonância com o estudo de Souza et al. (2014), cujos resultados indicam que os participantes (estudantes universitários portugueses) não reportaram possíveis consequências na vida dos observadores, em particular. Esta constatação sugere que o conhecimento dos adolescentes sobre as consequências do cyberbullying pode não ser restrito aos contextos investigados, ao nível de desenvolvimento e nível cultural dos participantes. Mais ainda, a crença de que não existem consequências para agressores ou observadores pode reforçar/estimular a ação desses sobre as vítimas. O que reforça a necessidade de ações de caráter preventivo e interventivo nos contextos educativos que ofereçam aos estudantes uma visão realista e, sobretudo, sistêmica acerca do fenômeno.

Implicações e futuras direções

Os resultados do presente estudo revelam uma série de contribuições que merecem ser destacadas. Por se tratar de uma investigação realizada com participantes de dois contextos culturais distintos, os resultados apontam à imperiosa necessidade de sensibilização social e de um trabalho coletivo face à problemática, destacando o papel fundamental da escola, famílias e comunidade em geral. A necessidade desta sensibilização social justifica-se por se tratar de um problema que ocorre nas interações sociais entre sujeitos, sendo considerado, portanto, um problema dinâmico. Tal como aludido por Souza et al. (2018), o cyberbullying trata-se de um comportamento agressivo, de caráter psicossocial, em que as tecnologias são utilizadas como dispositivos de manifestação do bullying. Esta prática, cada vez mais frequente entre adolescentes, visa algum tipo de dano nas vítimas que apresentam dificuldades para defender-se já que, muitas vezes, as agressões são anônimas, tornando praticamente impossível a fuga, enquanto alternativa por parte da vítima.

Face ao exposto, salienta-se o papel da escola e da família na transmissão de valores éticos entre adolescentes, além de reflexões acerca do respeito às diferenças. Sua intervenção aparece como fundamental tanto na prevenção, questionando o conhecimento dos alunos sobre a temática e as suas consequências associadas, quanto no cuidado das repercussões psicológicas do sofrimento da vítima de modo especial, assim como dos demais envolvidos, uma vez que estamos diante de um problema cujas repercussões também estão presentes na vida dos agressores e observadores. Ou seja, muitos dos episódios de cyberbullying são um contínuo das situações de bullying que os alunos vivem diariamente.

Consideramos relevante a necessidade de um trabalho a ser realizado diretamente com os estudantes, tendo como ponto de partida as experiências e percepções dos alunos sobre o cyberbullying, incluindo suas consequências ou até mesmo a ausência destas, tal como verificado nos resultados do presente estudo. Face ao exposto, é importante que as escolas promovam uma cultura de paz por meio das relações sociais positivas, bem como ações propositivas, e com isso, possam prevenir o cyberbullying.

Salientamos a relevância de um trabalho coletivo que promova entre os estudantes o comportamento empático, o compromisso moral, a regulação comportamental, as habilidades socioemocionais dos estudantes, assim como as estratégias de enfrentamento face ao cyberbullying (Veiga Simão et al., 2018; Zych et al., 2015). De forma adicional, estamos de acordo com o que aponta Francisco et al. (2022) ao referir que as crenças pessoais e normativas, bem como os mecanismos de desengajamento moral que operam no cyberbullying, devem ser considerados ao se projetar intervenções sobre a temática. Tais ações propositivas são fundamentais para estabelecer relações positivas e para lidar adequadamente com as situações de conflitos (Rodríguez-Álvarez et al., 2022) e cruciais para que se possa criar iniciativas que estejam em consonância com o que se tem produzido pela investigação, cujas respostas face ao fenômeno, devem ser identificadas e operacionalizadas em função de cada contexto.

Por um lado, cabe à escola o compromisso e responsabilidade de garantir um ambiente seguro onde todos os alunos se sintam protegidos dos vários tipos de bullying, tanto o presencial quanto o virtual (Freire et al., 2013). Por outro, também consideramos que a família deve apresentar um papel ativo diante dos desafios das tecnologias e do cyberbullying. É importante que a família esteja efetivamente consciente destes desafios e possam, num contexto de diálogo com os adolescentes, implementar regras de segurança, destacando-se, assim, a importância da supervisão parental no uso das tecnologias (Pardo-González & Souza, 2022; Veiga Simão et al., 2017). Para tal, escola e família necessitam ser informados e formados sobre o cyberbullying, sua identificação, suas im- plicações na vida dos envolvidos, as possíveis formas de evitamento e enfrentamento de forma efetiva. Por conseguinte, também é imprescindível um trabalho que vise o fortalecimento do vínculo escola-família (Pardo-González & Souza, 2022). O presente estudo também apresenta algumas limitações. Inicialmente é importante referir que a literatura do cyberbullying alude para diferenças na experiência do fenômeno, considerando aspectos como o sexo e a idade dos envolvidos. Entretanto, esse viés não foi abordado nessa pesquisa, incidindo numa limitação do presente estudo. Tal elemento analítico poderá ser objeto de estudo em futuras investigações, no sentido de dar conta desta lacuna investigativa.

Outra limitação do estudo se refere ao fato das características da amostra utilizada. Especificamente, utilizamos uma amostra por conveniência, sem uma distribuição equitativa dos participantes dos contextos investigados e que, ademais, representam apenas uma cidade de cada país e se tratam de estudantes provenientes de escolas privadas. Mesmo os participantes descrevendo suas perspectivas e experiências, com concordâncias, divergências e diversidade nas repostas às perguntas realizadas, tais características da amostra podem limitar a transferibilidade dos resultados. Sugerimos que futuros estudos possam considerar esta condição com o objetivo de contrastar com os resultados encontrados. De modo adicional, também consideramos pertinentes que futuros estudos possam considerar as possíveis diferenças de sexo na perspectiva dos adolescentes de modo a ter uma visão mais clara sobre as possíveis divergências que possam existir ou não na perspectiva dos estudantes. Tal aspecto é relevante uma vez que que a literatura do cyberbullying aponta para diferenças nos tipos de participação, mas ainda se constata uma lacuna na literatura que necessita ser colmatada (e.g., Barlett & Coyne, 2014; Shohoudi Mojdehi et al., 2019; Souza et al., 2022), a partir de uma perspectiva intercultural a respeito da percepção dos adolescentes a respeito dos significados atribuídos ao fenômeno, assim como as consequências associadas a partir de uma abordagem qualitativa (e.g., Shohoudi Mojdehi et al., 2019; Souza et al., 2014).

Considerações finais

As análises aqui realizadas trazem contribuições à literatura por buscarem compreender os significados, as experiências e repercussões do cyberbullying por adolescentes lusófonos do Brasil e de Angola. Apesar das divergências e similitudes verificadas nos dados obtidos, e que podem ser justificados pelo pertencimento cultural dos participantes de cada país, os mesmos permitem tecer algumas linhas conclusivas, mas que não podem ser generalizadas, considerando a pouca representatividade das populações e o número relativamente reduzido de participantes.

Congruentemente com a literatura, uma porcentagem significativa dos participantes de ambos os contextos culturais já ouviu falar de cyberbullying, sendo a escola o lugar que mais foi reportado pelos participantes do Brasil e da Angola. O que destaca o relevante papel das instituições educacionais face à problemática uma vez que as ações implementadas pelas escolas, face ao enfrentamento deste tipo de situação podem ser um importante marcador no sentido de acentuar ou atenuar este tipo de prática.

Os resultados apresentados oportunizam a compreensão que os significados atribuídos ao fenômeno estão relacionados com uma perspectiva comportamental e de causalidade do cyberbullying. Adicionalmente, os resultados também possibilitam referir que, embora se tenha verificado que os participantes de ambos os países tenham vivido situações de cyberbullying seja no papel de vítima, agressor e/ou observador, a frequência verificada no Brasil foi mais elevada nos três tipos de envolvimentos. Tal evidência pode estar relacionada com a especificidade sociocultural de cada contexto lusófono, fazendo com que os adolescentes estejam mais vulneráveis ao cyberbullying, já que tais situações também podem ser influenciadas pela qualidade de vínculo do aluno com a escola e com seus diversos atores, como o fato do estudante sentir (ou não) que a escola é um lugar seguro. Por fim, o presente estudo ainda permite concluir que as consequências atribuídas pelos participantes dos dois contextos são congruentes com a literatura, cujas repercussões são vivenciadas maioritariamente pelas vítimas. Espera-se assim, contribuir para que o fenômeno do cyberbullying possa ser considerado no âmbito das políticas públicas educacionais efetivas do Brasil e da Angola, capazes de fomentar a criação e implementação de métodos de prevenção que respondam aos riscos associados ao uso da Internet pelos adolescentes e que tenham como ponto de partida a ciberconvivência.

Agradecimentos

Esta investigação foi financiada por fundos nacionais do Ministério da Educação do Brasil através da Fundação CAPES e da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) (BCT-0287-7.07/18).

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Notas

* Contribuição dos autores: Sidclay B. Souza, concepção e desenho da investigação, coleta e análise dos dados que resultou na elaboração do presente artigo; Elaine Magalhães Costa-Fernandez, concepção, desenho da investigação e escrita do artigo; Etã Sobal Paranhos da Costa, escrita e revisão do artigo; Margaréte Berkenbrock-Rosito, escrita e revisão final do artigo; Maria da Conceição Lima, revisão do artigo.

Autor notes

* Dirigir correspondência à Sidclay B. Souza. Endereço: Campus San Miguel, Avenida San Miguel 3605, Talca, Maule, Código Postal: 3460000, Chile. Correio eletrônico: sbezerra@ucm.cl